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PENSAMENTO & BATALHA l COLAPSO E ECOLOGIA SOCIAL

Recortes dos textos de Murray Bookchin. historiador e pensador anarquista estadunidense.

O SISTEMA CAPITALISTA DESTRÓI O MUNDO E MATA TUDO QUE TOCA

O poder que esta sociedade tem para destruir atingiu uma escala sem precedentes na história da humanidade – e este poder está a ser usado, quase sistematicamente, para causar uma destruição insensata em todo o mundo da vida natural e nas suas bases materiais.

Em quase todas as regiões, o ar está a ser viciado, as águas poluídas, o solo está a ser levado pela água, a terra foi drenada e a vida natural destruída. As áreas costeiras e mesmo as profundezas do mar não são imunes ao alastramento da poluição. Com maior significância no fim de contas, os ciclos biológicos básicos, tais como o ciclo do carbono e do nitrogênio, dos quais todas as coisas vivas (incluindo os humanos) dependem para a manutenção e renovação da vida, estão a ser alterados até um ponto irreversível…

…Hoje é impossível considerar menos importantes, marginais ou “burgueses” os problemas ecológicos. O aumento da temperatura do planeta em virtude do teor crescente de anidrido carbônico na atmosfera, a descoberta de enormes buracos na camada de ozônio – atribuíveis ao uso exagerado de clorofluorcarbonetos – que permitem a passagem das radiações ultravioletas, a poluição maciça dos oceanos, do ar, da água potável e dos alimentos, a extensa deflorestação causada pelas chuvas ácidas e pelo abate incontrolado, a disseminação de material radioativo ao longo de toda a cadeia alimentar… tudo isto conferiu à ecologia uma importância que não tinha no passado…

Face a este cenário catastrófico há o risco … de se tentar curar os sintomas em vez das causas e de pessoas ecologicamente empenhadas procurarem soluções cosméticas em vez de respostas duradouras…

É necessário nos darmos conta que as forças que conduzem a sociedade para a destruição planetária têm as suas raízes na economia mercantil do “cresce ou morre”, num modo de produção que tem de expandir-se enquanto sistema concorrencial. O que está em causa não é a simples questão de “moralidade”, de “psicologia” ou de “cobiça”. Neste mundo competitivo em que cada um se acha reduzido a ser comprador ou vendedor e em que cada empresa deve se expandir para sobreviver, o crescimento limitado é inevitável. Adquiriu a inexorabilidade duma lei física, funcionando independentemente de intenções individuais, de propensões psicológicas ou de considerações éticas.

Atribuir toda a culpa dos nossos problemas ecológicos à tecnologia ou à “mentalidade tecnológica” e ao crescimento demográfico (para citar dois dos argumentos que mais freqüentemente emergem na mídia) é como castigar a porta que nos trancou ou o cimento em que caímos e nos machucamos. A tecnologia – mesmo a má como os reatores nucleares- amplifica problemas existentes, não os cria. O crescimento populacional é um problema relativo, se efetivamente o é. Não é possível dizer com segurança quantas pessoas poderiam viver decentemente no planeta sem produzir transtornos ecológicos…

A praga que afligiu o continente americano era mais devastadora que uma praga de gafanhotos. Era uma ordem social que se deve chamar sem cerimônias pelo nome que tinha e tem: capitalismo, na sua versão privada de Ocidente e na sua forma burocrática de Oriente. Eufemismos como “sociedade tecnológica” ou “sociedade industrial”, termos muito difundidos na literatura ecológica contemporânea, tendem a mascarar com expressões metafóricas a brutal realidade duma economia baseada na competição e não nas necessidades dos seres humanos e da vida não humana. Assim a tecnologia e a indústria são representadas como os protagonistas perversos deste drama, em vez do mercado e da ilimitada acumulação de capital, sistema de “crescimento” que por fim devorará toda a biosfera se para tanto se lhe consentir sobrevivência suficiente.

ECOLOGIA SOCIAL PARA ARRANCAR A ERVA DANINHA DO AGROCAPITALISMO PELA RAIZ

Sublinho cuidadosamente o uso que faço do termo “social”, quando me ocupo de questões ecológicas, para introduzir outro conceito fundamental: nenhum dos principais problemas ecológicos que hoje defrontamos se pode resolver sem profunda mutação social… O biocídio prosseguirá, a menos que as pessoas se convençam da necessidade duma mudança radical e se organizarem para esse efeito.

A ecologia social, tal como a concebo, não é mensagem primitivista tecnocrática. Tenta definir o lugar da humanidade “na” natureza – posição singular, extraordinária – sem cair num mundo de cavernícolas anti-tecnológicos, nem levantar vôo do planeta com fantasiosas astronaves e estações orbitais de ficção científica. A humanidade faz parte da natureza, embora difira profundamente da vida não humana pela sua capacidade de pensar conceitualmente e de comunicar simbolicamente. A natureza, por sua vez, não é simplesmente cena panorâmica a olhar passivamente através da janela…

A noção de que o homem deve dominar a natureza vem diretamente da dominação do homem pelo homem. Esta tendência, antiga de séculos, encontra seu mais exacerbado desenvolvimento no capitalismo moderno. Assim como os homens, todos os aspectos da natureza são convertidos em bens, um recurso para ser manufaturado e negociado desenfreadamente.

… o homem está hipersimplificando perigosamente o seu ambiente. O processo de simplificação do ambiente, levando ao aumento do seu caráter elementar – sintético sobre o natural, inorgânico sobre o orgânico – tem tanto uma dimensão física quanto cultural. A necessidade de manipular imensas populações urbanas, densamente concentradas, leva a um declínio nos padrões cívicos e sociais.

A mesma simplificação ocorre na agricultura moderna. O cultivo deve permitir um alto grau de mecanização – não para reduzir o trabalho estafante mas para aumentar a produtividade e maximizar os investimentos. O crescimento das plantas é controlado como em uma fábrica: preparo do solo, plantio e colheitas manipulados em escala maciça, muitas vezes inadequados à ecologia local. Grandes áreas são cultivadas com uma única espécie – uma forma de agricultura que facilita não só a mecanização mas também a infestação das pragas. Por fim, os agentes químicos são usados para eliminar as pragas e doenças das plantas, maximizando a exploração do solo.

O MUNDO BURGUÊS QUEIMA, AFOGA E ENVENENA PELO PODER E O LUCRO. E OS GESTORES MELHORISTAS SÓ REMENDAM O BURACO DO COLAPSO.

Temos que dar impulso à construção de uma sociedade ecológica que mude completamente, que transforme radicalmente nossas relações básicas. Enquanto vivermos em uma sociedade que marcha para a conquista, ao poder, fundada na hierarquia e na dominação, não faremos nada mais que piorar o problema ecológico, independentemente das concessões e pequenas vitórias que podemos ter.

Prometem acabar com as chuvas ácidas, e as chuvas ácidas continuam caindo. Decidem por no mercado alimentos naturais, não contaminados pelos pesticidas, e efetivamente a porcentagem de veneno diminui, mas o pouco que fica está constituído pelos venenos mais perigosos para o organismo.

…Hoje em dia vivemos o momento culminante de uma crise ambiental que ameaça nossa própria sobrevivência, temos que avançar até uma transformação radical, baseada em uma visão coerente que englobe todos os problemas. As causas da crise tem que aparecer claras e lógicas de maneira que todos -nós incluídos- as possamos entender. Em outras palavras, todos os problemas ecológicos e ambientais são problemas sociais, que tem que ver fundamentalmente com uma mentalidade e um sistema de relações sociais baseados na dominação e nas hierarquias.

De fato penso que é essencial empurrar sempre mais além de nosso questionamento, porque não podemos seguir pondo mais remendos aqui e lá que não resolvam os verdadeiros problemas… Definitivamente, passando de um mal maior a um mal menor e de um mal a outro mal, seguimos piorando a situação geral. Não se trata só de uma questão de projetos para a produção de energia, por mais importantes que estas sejam; nem tampouco o problema dos gases contaminantes; tampouco o problema está nos danos que causamos a agricultura, ou o congestionamento e a contaminação dos centros urbanos.

O problema é outro mais grave: estamos simplificando o planeta. Estamos dissolvendo os ecossistemas que se formaram em milhares de anos. Estamos destruindo as cadeias alimentares. Estamos rompendo as ligas naturais e levando o relógio evolutivo a um atraso de milhões de anos no tempo. As épocas em que o mundo era muito mais simples e não se encontrava na possibilidade de sustentar a vida humana.

Como é possível conseguir as transformações sociais de grande alcance que preconizo? Não creio que possam vir do aparelho de Estado, quer dizer, num sistema parlamentar de substituição dum partido por outro (por altamente inspirado que este último possa parecer durante o seu período heróico de formação)…

Temos que demonstrar que uma sociedade baseada na economia de mercado, na exploração da natureza e na competição acabará por destruir o planeta.

AUTOGESTÃO POPULAR E TECNOLOGIAS PARA O BEM COMUM

…É claro que necessitamos de uma nova tecnologia. Necessitamos uma tecnologia baseada na energia solar e na eólica, e necessitamos novas formas de agricultura. Sobre isto, não há dúvidas, estamos todos de acordo. Mas existem problemas de fundo muito mais graves que aqueles criados pela tecnologia e o desenvolvimento moderno. Temos que buscá-los nas raízes mesmas do desenvolvimento. E antes de tudo temos que busca-los nas origens de uma economia baseada sobre o conceito de ‘crescimento’: a economia de mercado; uma economia que promove a competição e não a colaboração, que se baseia na exploração e não no viver em harmonia. E quando digo viver em harmonia entendo não somente as relações com a natureza, mas entre nós mesmos.

Em relação com a tecnologia, não temos que nos preocupar somente com que ela seja mais eficiente e renovável, temos que inventar uma tecnologia criativa, que não só leva consigo um trabalho mais criativo, mas que contribua a melhorar o mundo natural ao mesmo tempo que melhore o modo e a qualidade de nossas vidas.

…Estou perguntando uma questão que é bastante diferente do que é ordinariamente perguntado com respeito à tecnologia moderna. Está essa tecnologia trazendo à tona uma nova dimensão da liberdade humana, na libertação do homem? É possível que ela não apenas libere o homem da escassez e do trabalho, mas também o leve a uma comunidade livre, harmoniosa, equilibrada – uma ecocomunidade que iria promover o desenvolvimento irrestrito de suas potencialidades? Finalmente, pode ela levar o homem além do domínio da liberdade para dentro do domínio da vida e do desejo?…

…O ecossistema pressupõe uma enorme descentralização da agricultura. Onde for possível, a agricultura industrial deve ceder lugar à agricultura doméstica. Sem abandonar os ganhos da agricultura em larga escala e da mecanização, deve-se, contudo, cultivar a terra como se fosse um jardim. A descentralização é importante tanto para o desenvolvimento da agricultura quanto do agricultor. O motivo ecológico pressupõe a familiaridade do agricultor com o terreno que cultiva. Ele deve desenvolver sua sensibilidade para as possibilidades e necessidades do terreno, ao mesmo tempo que se torna parte orgânica do meio agrícola. Dificilmente poderemos alcançar este alto grau de sensibilidade e integração do agricultor sem reduzir a agricultura ao nível do indivíduo, das grandes fazendas industriais para as unidades de tamanho médio.

O mesmo raciocínio se aplica ao desenvolvimento racional dos recursos energéticos. A Revolução Industrial aumentou a quantidade de energia utilizada pelo homem, primeiro por um sistema único de energia (carvão) e mais tarde por um duplo (carvão-petróleo, ambos poluentes). No entanto, podemos aplicar os princípios ecológicos na solução do problema. Pode-se tentar restabelecer os antigos modelos regionais de uso integrado de energia baseado nos recursos locais usando um sofisticado sistema que combine a energia fornecida pelo vento, a água e o sol.

Essas alternativas em separado não podem solucionar os problemas ecológicos criados pelos combustíveis convencionais. Unidos, contudo, num padrão orgânico de energia desenvolvido a partir das potencialidades da região, elas podem satisfazer as necessidades de uma sociedade descentralizada.

…Uma nova tecnologia está hoje e emergir. Ela é tão importante para o futuro como a fábrica o é para o presente. Ela traz consigo um critério de seleção das técnicas atualmente existentes, a partir do seu interesse ecológico e da sua relação com a liberdade humana. Nos seus aspectos de maior relevo, estas técnicas são fortemente descentralizadoras, isto é, humanas na sua própria escala, de construção muito simples e de orientação compatível com a natureza. Elas vão buscar a sua energia ao sol e ao vento, bem como aos resíduos urbanos e aos resíduos agrícolas. A agricultura alimentar pode tornar-se uma forma de atividade espiritual, materialmente rentável. Ela é muito positiva para o ambiente e favorece também, o que é ainda talvez mais importante, a autonomia das pessoas e das comunidades.

…A imagem da cidade enquanto fábrica, imagem muito divulgada, foi já tão longe, que as formas técnicas e institucionais alternativas têm também de ser suficientemente radicais e profundas.

Que elas possam renascer hoje sob o nome de tecnologia popular ou alternativa, é apenas o indício de que há a necessidade de operar uma mudança no sistema social atual. Estas técnicas alternativas dão-nos hoje, justamente, o contexto possível, e talvez histórico, para uma tal mudança social. Elas permitem que a autogestão seja efetivamente uma realidade viva e concreta…

…Temos que elaborar estratégias libertárias que fortaleçam o povo, as pessoas, a participar no processo de transformação social, porque se não é a gente a que quer mudar a sociedade, então não se efetuará nenhuma mudança real nem radical.

LUTA LIBERTÁRIA E SOCIALISTA PARA ENFRENTAR AS ESTRUTURAS DOMINANTES DO DESASTRE CAPITALISTA

Mas nós não nos iludimos a nós mesmos de que este mundo orientado para a vida possa ser desenvolvido, inteiramente ou mesmo parcialmente conseguido, através de uma sociedade orientada para a morte. A sociedade Americana como hoje está constituída, está penetrada de racismo e ergue-se no topo do mundo inteiro não só como consumidora de sua riqueza e recursos, mas como um obstáculo a todas as tentativas de autodeterminação no interior e no estrangeiro. Os seus objetivos inerentes são a produção pela produção, a manutenção da hierarquia e do trabalho árduo à escala mundial, manipulação das massas e controle por meio de instituições políticas centralizadas. Este tipo de sociedade contrapõe-se inalteravelmente a um mundo orientado para a vida. Se o movimento ecológico não tira estas conclusões dos seus esforços para conservar o ambiente natural, então a conservação torna-se um mero obscurantismo. Se o movimento ecológico não dirige os seus esforços principais para uma revolução em todos os aspectos da vida – social bem como natural – então o movimento tornar-se-á gradualmente numa válvula de segurança para a ordem estabelecida. A nossa esperança está em que os grupos como nós, brotarão através do país, organizados como nós próprios numa base humanista e libertária, empenhada na ação conjunta e com um espírito de cooperação baseado no apoio mútuo. É também esperança nossa que eles tentem fomentar uma nova atitude ecológica, não só para com a natureza mas também para com os humanos: uma concepção de relações espontâneas variegadas dentro e entre grupos, dentro da sociedade e entre os indivíduos.

Aos enormes problemas criados por esta ordem social devem juntar-se os criados por uma mentalidade que começou a desenvolver-se muito antes do nascimento do capitalismo e que este absorveu completamente. Refiro-me à mentalidade estruturada em torno da hierarquia e do domínio, em que o domínio do homem sobre o homem originou o conceito do domínio sobre a natureza como destino e necessidade da humanidade.

…E se se quer achar remédio para o cataclismo ecológico, deve procurar-se a origem da hierarquia e do domínio. O fato da hierarquia sob todas as formas -domínio do jovem pelo velho, da mulher pelo homem, do homem pelo homem na forma de subordinação de classe, de casta, de etnia ou de qualquer outra estratificação da sociedade – não haver sido identificada como tendo âmbito mais amplo que o mero domínio de classe, tem sido uma das carências cruciais do pensamento radical. Nenhuma libertação será completa, nenhuma tentativa de criar harmonia entre os seres humanos e entre a humanidade e a natureza poderá ter êxito se não forem erradicadas todas as hierarquias e não apenas a de classe, todas as formas de domínio e não apenas a exploração econômica.

Uma nova política deveria… implicar a criação duma esfera pública “de base” extremamente participativa, no nível da cidade, do campo, das aldeias e bairros. Decerto o capitalismo provocou destruição tanto dos vínculos comunitários como do mundo natural. Em ambos os casos nos encontramos face à simplificação das relações humanas e não humanas, à sua redução a formas interativas e comunitárias elementares. Mas onde existam ainda laços comunitários e onde – mesmo nas grandes cidades – possam nascer interesses comuns, esses devem ser cultivados e desenvolvidos.

Sim, necessitamos mudar, mas mudar tão fundamentalmente e em tão grande escala que mesmo os conceitos de revolução e liberdade devem ser ampliados para além de todos os primitivos horizontes. Já não é suficiente falar das novas técnicas para a conservação e promoção do ambiente natural; devemos tratar a terra comunalmente, como uma coletividade humana, sem aquelas peias da propriedade privada, que têm distorcido a visão da vida e da natureza da humanidade, desde a rotura da sociedade tribal. Devemos eliminar não só a hierarquia burguesa mas a hierarquia como tal; não só a família patriarcal, mas também todas as formas de domínio familiar e sexual; não só a classe burguesa e o sistema de propriedade, mas sim todas as classes sociais e a propriedade. A Humanidade deve tomar posse de si própria, individual e coletivamente, para que todos os seres humanos obtenham o controle de suas vidas diárias. As nossas cidades devem ser descentralizadas em comunidades ou eco comunidades talhadas, fina e habilidosamente, para o aproveitamento da capacidade dos ecossistemas nos quais elas estão localizadas. As nossas tecnologias devem ser readaptadas e formuladas em ecotecnologias, fina e inteligentemente adaptadas para usarem as fontes de energia local e os materiais, com um mínimo ou sem poluição do ambiente. Necessitamos recuperar um novo sentimento das nossas necessidades – necessidades que fomentem uma vida saudável e que exprimam as nossas inclinações individuais, não as “necessidades” ditadas pelos meios de comunicação. Temos que restaurar a escala humana no nosso ambiente e nas nossas relações pessoais, substituto medianeiro das relações pessoais diretas na gestão da sociedade. Finalmente, todas as formas de domínio – social ou pessoal – devem ser banidas das nossas concepções, de nós próprios, dos nossos semelhantes e da natureza.

OBRAS SELECIONADAS DO AUTOR:

Agricultura radical

Autogestão e tecnologias alternativas

O poder de destruir e o poder de criar

Por uma ecologia social

Por uma tecnologia libertária

COORDENAÇÃO ANARQUISTA BRASILEIRA