[Rusga Libertária] A política de morte do Agronegócio e Governantes: destruição e lucro em terras do Centro-oeste
A política de morte e devastação realizada pelo Agronegócio não começou agora, vem ganhando terreno em todo o processo histórico/cultural/social/econômico de Mato Grosso… foi sendo intensificado quando o mesmo setor começou a ganhar maiores privilégios e controle de poder dentro da máquina estatal. Há muito tempo que vivenciamos, em Mato Grosso – no Centro-oeste –, as problemáticas do período de seca (estiagem); período que é intensificado com a entrada do segundo semestre de cada ano. Os setores ligados com a produção da monocultura, extração de madeira e minério, e com a criação de gado para corte – cujo principal foco não é o abastecimento interno (seja local, regional ou nacional) e sim a exportação para outros países – são os principais responsáveis pelo anual agravamento do desmatamento da região que possui o bioma amazônico, pantaneiro e o grande cerrado.
A verdade é que o Agronegócio chegou até aqui financiado por uma sucessão de governos, do estado de Mato Grosso e federal. Esse financiamento foi desde conceder terras, construir programas de estudos de melhoramentos do solo com dinheiro e estrutura pública, investir dinheiro diretamente na produção, até a farra fiscal que vemos nos dias de hoje, em que os últimos governos, incluindo já Mauro Mendes, concederam bilhões de isenções fiscais ao agronegócio. Cada governo de Mato Grosso beneficiou o Agronegócio de alguma forma via diversos programas: PROMAT (década de 70); PRODEAGRO (décadas de 70, 80 e 90); PRÓ-MADEIRA (década de 90); PRÓ-COURO (década de 90); PROALMAT (década de 90); PRODEI (duas primeiras décadas do século XXI) – Programa de Blairo Maggi e companhia; MT Integrado (2010-2014).
Todo esse investimento de dinheiro público rendeu muito ao empresariado agroexportador. De acordo com a Confederação Nacional da Agricultura, a produção (em toneladas) do Agronegócio cresceu 375% em menos de 40 anos (de 1976 a 2016) e mantém uma taxa de crescimento de 4% ao ano; considerado o maior crescimento do mundo. A área consumida pelo Agronegócio cresceu 61% nesses 40 anos – segundo, ainda a Confederação Nacional de Agricultura, CNA. Todo esse crescimento e enriquecimento dos bilionários do agronegócio saiu dos bolsos dos mato-grossenses, daqueles/as que pagam alto valor para sobreviver com o constante aumento do custo de vida. Grande parte das terras da região de Mato Grosso foram dadas, ainda durante a Ditadura Militar (Marcha para o Oeste); além da doação de terras, houve a realização de estudos e preparação do solo, pois o solo mato-grossense não era (e não é) favorável à agricultura intensiva; financiou através de programas e hoje sustenta através de isenções fiscais.
Lembremos, ainda, da isenção fiscal que beneficia a venda de agrotóxicos. Mato Grosso deixou de arrecadar mais de R$ 1,3 bilhão em 2017; número crescente desde então, pois ocorreu a renovação da isenção em 2020, prevendo uma perda de 6 bilhões a nível de Brasil. Mato Grosso é o estado que mais deixou de arrecadar no Brasil, de acordo com estudo da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) – citado em reportagem do Agência Pública/Repórter Brasil, em 23/04/20. Deixou de arrecadar para financiar o veneno, em vez de avançar em políticas de controle e de outros modos de produção (agricultura familiar camponesa, popular e agroecológica).
A nível federal, destacamos que esse “apoio” político-econômico, mais declarado e explícito, começaria a se intensificar com o período de Fernando Henrique Cardoso, ampliando-se massivamente com as políticas do período do governo do PT, quando Blairo Maggi e Katia Abreu podem ser considerados os principais interlocutores do agronegócio – ambos representando, principalmente, o agronegócio de todo Centro-oeste, mas não se limitando à essa única região brasileira. O Agronegócio foi e é sustentado por governos que governam em interesse dos de cima. Nessa lógica de troca entre os de cima – Estado e setor empresarial/ruralista –, ao agro tudo; ao povo, retiradas de direitos!
Ao ingressarmos, no atual momento, a profunda e explícita política de morte e entreguista de Bolsonaro e seus financiadores, a ideologia do negacionismo se alastrou por todo território brasileiro. Mato Grosso segue a galope com o avanço do: desmatamento criminoso intensificado, assassinatos de povos originários/camponeses/quilombolas e um maior ataque aos setores de defesa da natureza e dos povos que dela realmente sobrevivem.
Do fim de agosto à entrada do mês de setembro, as queimadas já registravam o consumo (pelo fogo) de área 11 vezes maior que a própria cidade de São Paulo[1]. Estamos avançando para a segunda quinzena do mês de setembro e só tem se intensificado a destruição em nossa região: animais (aéreos, terrestres e aquáticos) perdendo ainda mais seus habitats e sendo exterminados; povos indígenas/camponeses/quilombolas sofrendo com a destruição de suas terras e com o próprio descaso do governo estadual e federal; problemas de saúde se agravando ainda mais pela extrema queda da umidade do ar – sempre há registro de aumento dessa problemática nesse período, mas, com o vírus da COVID-19 e o descontrole pelo negacionismo, isso se torna ainda mais danoso para os povos da cidade/floresta/campo.
Se já não bastasse o processo de desmatamento para dar lugar à construção de condomínios fechados, frigoríficos de enorme porte, pasto para gado e terra para produção de monocultura extrativista de madeira, temos o negacionismo, impulsionado por Jair Bolsonaro, reproduzido de modo explícito e descontrolado por seus seguidores que filmam botando fogo nos pastos e, ao mesmo tempo, culpam setores ambientalistas e indígenas pela queimada e grossa “nuvem” de fumaça que toma conta de várias regiões do Brasil, indo muito além da própria região Centro-Oeste. A baixada cuiabana, assim como outras regiões no estado de Mato Grosso, tem amanhecido e dormido sob o forte odor de fumaça e visibilidade turva já há longas semanas. Ao mesmo tempo que enfrentamos os riscos de agravamento respiratório pela COVID-19, agora, temos os riscos de adoecimento pela poluição do ar e tempo extremamente seco – que já gera uma enorme dificuldade para se respirar.
Privatização, precarização da vida das/os trabalhadoras/es e o constante aumento do custo de vida
Se já não nos bastassem os problemas ocasionados pela pandemia e pela queimada, que se alastra por quase todo território mato-grossense, a população tem enfrentado constantemente a problemática com a distribuição de água em suas casas – há vários bairros, em Cuiabá e Várzea Grande, como, também, em outros municípios e distritos, que continuam sofrendo com o descaso do não planejamento de Saneamento Básico. A distribuição de água potável, de qualidade, é essencial para se manter a higiene doméstica e para enfrentar a seca e baixa umidade do ar. Repetindo a prática de vários outros serviços que foram sendo privatizados, a empresa privada de abastecimento de água tem apresentado uma constância de “problemas” na distribuição de água e ocasionado a precarização de nossas vidas, mais e mais – isso somado à própria precarização avassaladora que o sistema capitalista já desenvolve há muitos séculos. Constantes aumentos nas faturas de água e energia, porém, constantes serviços precários para a população que já sofre com salários congelados e custo de vida aumentado para render cada vez mais lucro para uma minoria de especuladores financeiros!
Nas prateleiras dos supermercados, temos sofrido com o constante assalto dos preços de mercadorias essenciais para a alimentação do nosso povo. Um estado considerado como “o estado do Agronegócio” faz jus ao adjetivo – produz commodities em formato de monocultura, destinado ao abastecimento externo e à alimentação do gado de corte. O Agronegócio não produz para alimentar a cidade, esse papel é dos pequenos agricultores e camponeses – que são objetos de massacre e extermínio provocados pelas pequenas famílias detentoras do controle das terras e política mato-grossense. Mauro Mendes, o político do Sistema S e Empresários locais, segue a política neoliberal e de morte do governo federal; brinca com a vida da população, precariza os serviços essenciais (saúde e educação), nega as pesquisas científicas a respeito dos impactos da COVID-19 e, atualmente, das próprias queimadas… ao mesmo tempo, segue isentando o setor do “Agro” – essa dívida com os cofres públicos do estado já ultrapassam a casa dos bilhões.
– Carne, arroz, feijão, ovo, combustível, água, energia, remédio, aluguel, etc.: aumento constante não importando com a realidade econômica das/os de baixo – as/os trabalhadoras/es;
– Salário Mínimo: estagnado, congelado e precarizado; seguirá distante do aumento que viemos sofrendo sobre o custo de vida e gerando ainda mais precarização das nossas vidas.
Isso significa dizer que o povo mato-grossense e brasileiro, em geral, pagou e paga para o Agronegócio faturar uma renda bilionária e livre de impostos; sem retorno para a sociedade, uma vez que o Agronegócio não gera uma taxa significativa de empregos – as máquinas fazem a maior parte do trabalho – e, também, não coloca alimento em nossos pratos – mais da metade da produção é de soja e vai para a exportação. Isso significa dizer que o povo mato-grossense pagou e paga para o Agronegócio devastar áreas ambientais e envenenar o campo e a cidade. O dinheiro público investido no Agronegócio não retorna para a população. Ficamos com o veneno, as consequências ambientais em nossa saúde, e, a pobreza pelo encarecimento do custo de vida. Para derrotar a política de morte e devastação – do Agronegócio, do Mauro Mendes e do Bolsonaro – nos cabe a organização e luta mais radicalizada, no campo e na cidade, nos locais de estudos, moradia, trabalho e vivência… enraizar a rebeldia, a ação direta, a solidariedade de classe e o apoio mútuo contra todos os oportunistas de turno. Nossas urgências não serão sanadas através da letargia das urnas e das políticas conciliatórias de representantes de turno; façamos nós por nossas mãos… Por vida digna, no campo, na floresta e na cidade… Lutar, criar Poder Popular.
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[1] https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2020/09/02/queimadas-em-mato-grosso-consomem-area-cerca-de-11-vezes-maior-que-a-cidade-de-sp.htm
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Infelizmente aqui no MT essa é a realidade em que estamos vivendo. Excelente artigo da Rusga Libertária!
Falta um enorme senso crítico e político para a maioria dos cidadãos mato-grossenses que continuam elegendo esses abutres políticos decrépitos, que além de explorarem e destruirem o meio ambiente e a vida das pessoas, ainda se perpetuam no poder com seus filhos e apadrinhados. O verdadeiro interesse do agro é o lucro e não o bem estar da população, de seus empregados ou mesmo do meio ambiente. Para piorar a situação, temos em Brasília um genocida na presidencia e um energúmeno no ministério do meio ambiente, sem contar a venenosa ministra da agricultura.
É, realmente estamos retrocedendo e não sabemos onde iremos parar!
Um abraço aos companheirxs e que continuemos perseverantes na luta e na resistencia!