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SINDICALISMO E AÇÃO DIRETA

Trabalhadores (as) decidindo os rumos da luta

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No primeiro semestre de 2014, a luta de diversas categoriais de trabalhadores (as) ganharam as ruas para o desespero de patrões e governos. O contra-ataque dos poderosos teve a ajuda da grande mídia, que tentou criminalizar os protestos e desmobilizar os lutadores. Isso ocorreu antes, durante e depois da Copa do Mundo, momento em que os noticiários buscavam legitimar as ações violentas dos aparelhos repressivos do Estado e seus governantes. Na sequência, vieram também as perseguições políticas e prisões de dezenas de manifestantes de forma autoritária, violando os meios democráticos e direitos humanos.

Mas é inegável que as lutas destes/as trabalhadores/as tomaram grandes proporções, e pode-se identificar nelas uma prática comum, que tem sido bastante rara atualmente no sindicalismo brasileiro. Foram greves construídas nos locais de trabalho, independente das direções sindicais – por vezes tendo até mesmo que enfrentá-las. Conquistaram vitórias, totais ou parciais, que os antigos diretores sindicais, muitos deles fazendo o jogo dos governos e patrões, diziam não ser possível conquistar. Esses movimentos inspiraram diversos outros, em menores proporções e nem sempre com o mesmo grau de avanço, mas com uma importância enorme na tentativa de renovar a maneira de fazer a luta sindical no Brasil.

Essa prática pode ser identificada principalmente no protagonismo, na ação direta das bases decidindo sobre os rumos das greves frente à burocracia e à centralização das direções sindicais personalizadas e por correntes sindicais partidarizadas. Estas últimas, por outro lado, são práticas sindicais viciadas, que em geral não dão conta das urgências da classe trabalhadora, nem constroem espaços com autonomia política e participação direta dos/as trabalhadores/as.

Assim, experiências de autonomia, luta e solidariedade de classe emergem pelo país, seja no exemplo dos operários em protesto nas grandes obras de infra-estrutura do PAC (principalmente no norte e nordeste do país), os garis no Rio de Janeiro, os rodoviários em Porto Alegre, ou os metroviários de São Paulo. Demonstraram, na prática, que a luta começa desde baixo, e não raras vezes sem a tutela ou mesmo contra as direções sindicais. Em uma clara demonstração de que quem deve ter o controle das lutas é o conjunto da base e não um grupo de dirigentes “iluminados”.

Ações que também têm em comum a retomada de alguns importantes valores das várias lutas históricas das classes exploradas e oprimidas em todo mundo:

Ação Direta: os métodos de lutas para fazer avançar as reivindicações tiveram um repertório bastante diversificado desde as greves. São exemplos disso os piquetes, ocupações, sabotagens e mobilizações que paralisaram a circulação e o funcionamento de serviços essenciais. A Ação Direta é o uso de todos os meios necessários para potencializar as lutas protagonizadas pelos/as trabalhadores/as. Significa não entregar na mão de outros o poder de decisão sobre os assuntos do cotidiano. Ao contrario, é o coletivo a exercer esse poder de forma direta, sem intermediários ou representantes.

Protagonismo de Base: há uma disposição da base dos trabalhadores em fazer avançar a luta sindical e muitas vezes combatendo a postura burocrata da própria direção dos sindicatos. Assim foi o exemplo das lutas sindicais nesse período, impulsionadas pela base das categorias. Esse é o ingrediente de um sindicalismo forte, com controle dos/as trabalhadores/as através da democracia direta. Combatendo a cultura autoritária e anti-democrática presente nos sindicatos, inclusive em muitos daqueles dirigidos por agrupações que se colocam à esquerda na composição política.

Na medida em que os/as trabalhadores/as se organizam e avançam, a reação do Estado e governos têm sido a de criminalizar a greve e o protesto, reprimindo as lutas legítimas e propagando a mentira através da mídia burguesa, a grande aliada dos patrões e poderosos. Denunciamos aqui a cumplicidade entre essa hegemônica mídia capitalista, os governos e os fortes grupos econômicos que controlam o país.

É com entusiasmo que vemos as retomadas desta combatividade nas lutas sindicais pelo país, pois tomar o protagonismo de nossas lutas é fundamental. Os sindicatos são instrumentos importantes que podem potencializar a luta sindical. Contudo, quando estão tomados pela burocracia partidária, ou engessados pela patronal, deixam de ser um meio de luta e viram um meio de vida para os oportunistas. Pessoas que se dizem representantes dos/as trabalhadores/as, mas que se encastelam na estrutura sindical. Subordinam as urgências dos trabalhadores aos seus interesses, ou aos de seu partido, distanciando-se da realidade dos trabalhadores.

É no acúmulo das nossas forças e pelo nosso poder de mobilização que podemos enfrentar, inclusive, as injustas decisões judiciais a serviço de governos e patrões. É também pela nossa força coletiva que podemos alcançar as vitórias que almejamos. Que não percamos nossos desejos por mudanças! Que cada luta, cada piquete, cada greve, com suas derrotas e vitórias, possa fortalecer a ideia de que um novo mundo é possível.

Dentro desse processo de radicalização das lutas, é necessário ter como retomada de objetivo o Sindicalismo Revolucionário. Concepção de luta sindical defendida por Mikhail Bakunin, que o ano de 2014 comemoramos os 200 anos de seu nascimento, além de ter sido apontado como um “suspeito em potencial” de estimular as lutas e ter envolvimento com elas, na capital carioca.

Os 200 Anos de Bakunin

Em 2014, relembramos os 200 anos do nascimento do revolucionário e anarquista russo Mikhail Bakunin. Militante exemplar, sua vida se confundiu com a luta dos trabalhadores de sua época, principalmente dentro da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT). Junto com outros companheiros, também foi responsável pela constituição do anarquismo como força socialmente engajada na luta pela liberdade e igualdade. Em 1868, Bakunin ajudou a fundar a Aliança da Democracia Socialista, organização clandestina e a primeira especificamente anarquista da história, que atuou dentro da AIT.

Sendo a AIT o espaço que aglutinou e impulsionou as lutas dos trabalhadores nesse período, é importante pontuar que foram os acúmulos das correntes anti-autoritárias da Internacional que tiveram maior influência no movimento operário de nosso continente latino americano. Após o Congresso de Haya, da Primeira Internacional, as concepções estatista e federalista se separam em meio a fortes polêmicas e seguem caminhos distintos. E é a corrente libertária do socialismo (federalista e anarquista) que vai impulsionar a continuidade da AIT, e é em 1872, em Saint-Imier na Suíça, que Bakunin e os federalistas fundavam a Internacional conhecida mais tarde como anti-autoritária.

As seções e federações vinculadas à Internacional que foram se formando em toda a América Latina contavam com orientações gerais bastante precisas e com autonomia para o seu desenvolvimento, dando continuidade às propostas federalistas e de sindicalismo revolucionário de Bakunin. Ele entendia o sindicalismo como um meio e não um fim em si. E o papel dos anarquistas deveria ser colocar combustível nos processos de mobilização da classe e organizar as lutas junto com os/as trabalhadores/as. Fazendo a propaganda da causa onde quer que se encontrassem os operários. Foi de fato na ação, e a partir das táticas consagradas pela experiência, que os contornos de uma doutrina sindical mais radical foi tomando forma, tornando-se a expressão histórica deste período.

A genealogia da Greve Geral

A idéia de greve geral foi lançada pelo Congresso da Internacional realizado em Bruxelas, em setembro de 1868. Na ocasião, era uma ferramenta com o objetivo de lutar contra a guerra naquele período. Mas foi em 1869 que Bakunin, de forma pioneira, analisou todas as possíveis consequências e potencialidades da Greve Geral:

“Quando as greves ampliam-se, comunicam-se pouco a pouco, é que elas estão bem perto de se tornar uma greve geral; e uma greve geral, com as ideias de liberação que reinam hoje no proletariado, só pode resultar em um grande cataclismo que provocaria uma mudança radical na sociedade. Ainda não estamos nesse ponto, sem dúvida, mas tudo nos leva a isso.”

Bakunin traz assim importantes contribuições a esta concepção da greve como ferramenta de mobilização de força dos/as trabalhadores/as, e que “já indicam uma certa força coletiva, um certo entendimento entre os operários”. Como prática da luta reivindicativa e de formação na prática, a Greve Geral deve também encarnar a solidariedade entre os setores da classe oprimida, pois “as necessidades da luta levam os trabalhadores a apoiarem-se, de um país a outro, de uma profissão a outra”.

Coordenação Anarquista Brasileira – frente sindical

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