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QUE OS RICOS PAGUEM PELA CRISE CLIMÁTICA!

“Uma nova política deveria, segundo minha opinião, implicar na criação de uma esfera pública de base extremamente participativa a nível da cidade, do povoado, da aldeia, do bairro. O capitalismo produziu tanta desestruturação dos laços comunitários quanto a devastação do mundo natural.”
(Por uma Ecologia Social – Murray Bookchin)

Vivemos em uma etapa histórica marcada pela desregulação climática geral. É verdade que, em parte, sentimos os efeitos de processos típicos do funcionamento do planeta (como os fenômenos El Niño e La Niña), porém estes são agravados pelos abusos do capital, intensificando eventos climáticos naturais em extremos catastróficos pelo mundo.

Foram três anos seguidos de La Niña (quando ocorre o resfriamento das águas superficiais do oceano Pacífico Equatorial, levando a mudanças na circulação atmosférica tropical, que abala os regimes de temperatura e chuva em várias partes do globo, incluindo a América do Sul – https://portal.inmet.gov.br/noticias/fen%C3%B4meno-la-ni%C3%B1a-chega-ao-fim-ap%C3%B3s-tr%C3%AAs-anos-de-dura%C3%A7%C3%A3o), que tiveram fortes impactos na agricultura e, consequentemente, na distribuição dos alimentos produzidos.

Isso implica em alterações no esquema de chuvas e estiagem, aumento da temperatura média global, causando derretimento das calotas polares, ondas de calor extremo em todas as partes do mundo, morte de pessoas, animais e vegetação. Depois vivenciamos o evento climático El Niño, com efeitos opostos aos da La Niña. Em 2024 La Niña voltará a agir.

A crise climática é um guarda chuva que abrange o racismo ambiental – em que a exploração dos bens naturais pelos super ricos afeta todo o ecossistema e quem sofre são as e os de baixo, perdem suas casas e tudo o que conquistaram durante seus anos de trabalho, às vezes até a própria vida.

No dia 16/01/24, um forte temporal acometeu o sul do Brasil, com rajadas de vento de mais de 100km/h em SC e no RS, destelhando, destruindo e inundando casas, bloqueando vias devido a deslizamentos de terra, quedas de árvores e postes, falta e abastecimento de luz e água.

Em Porto Alegre e na região metropolitana inúmeras famílias passaram a semana toda sem luz e sem abastecimento de água, com a comida estragando na geladeira, sem conseguir tomar nem banho. Hospitais gerais e de pronto atendimento, unidades básicas de saúde e farmácias distritais reduziram seu horário de funcionamento, pois os geradores não foram suficiente para comportar o número de pacientes. A saúde de quem faz uso de equipamentos de oxigênio em domicílio também ficou comprometida.

empresa de energia responsável (que foi privatizada em 2021 no governo de Eduardo Leite, reeleito como governador do RS em 2022), CEEE Equatorial, tem se esquivado das cobranças feitas inclusive pelo prefeito da capital, Sebastião Melo, que apelou nas redes sociais pela atenção do grupo empresarial. A falta de plano de contigência é tão absurda que o prefeito chegou a pedir empréstimo e/ou doação de motosserra para a população, a fim de agilizar as remoções das árvores que foram levadas com os fortes ventos.

Ora, se a população é chamada a contribuir com os ônus do ocorrido, por que então não está autorizada a participar da gestão coletiva do setor de abastecimento? O abastecimento de água precisa de energia elétrica para funcionamento das bombas, então a parte mais precarizada da população amargou dias sem água e luz – e sem previsão de retorno.

Eventos climáticos fazem parte do funcionamento natural do planeta, entretanto, na atual conjuntura, percebemos que sua frequência, amplitude e impactos são diretamente afetados pelo sistema capitalista. As catástrofes são, portanto, sociais, e afetam grupos e pessoas em situação de vulnerabilidade. Enquanto isso, as classes mais abastadas têm pouco ou nenhum prejuízo, pois têm assegurados seus bens e parte das pessoas está desfrutando de férias, bem longe do “problema”.

Em Porto Alegre, vemos que a alternativa que surge é a dos espaços privados de consumo, que tiram proveito da crise para lucrar com as mazelas que sofre o povo pobre: a valorização de shoppings e hotéis, que oferecem condições promocionais para carregar aparelhos de celular, aproveitar ar condicionado e até mesmo tomar banho (!), escancarando, mais uma vez, a sanha do capital.

Essa é uma luta que veio pra ficar. Esse ritmo de “avanço” tecnológico, que tem o poder concentrado nas mãos de poucos, ricos, empresários de transnacionais, políticos e banqueiros, não tem outro futuro, senão consumir os bens naturais e destruir o planeta.

Porém a população das periferias responde com ação direta, tendo se mobilizando em mais de dez pontos da cidade, exigindo a volta da água e da energia elétrica. Foram mobilizações espontâneas, demonstrando o insustentável que é passar sem o básico, por conta da má administração privada dos serviços. O povo não é besta! Sabe da força que tem quando se junta por uma causa comum, afinal, quem vive junto luta junto!

Por isso gritamos QUE OS RICOS PAGUEM PELA CRISE CLIMÁTICA, já que são suas empresas quem invadem e exploram a terra, devastam florestas, poluem as águas com o garimpo ilegal. Que os ricos paguem pela destruição impulsionada para manter seus caprichos, a concentração de poder, bens e capital em suas mãos. Que os ricos paguem pelo fim do mundo, pois o povo continua exercitando a solidariedade nesses momentos. Se não houver salvação, mesmo assim haverá luta!

FAG – Federação Anarquista Gaúcha

CAB – Coordenação Anarquista Brasileira