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Os povos se levantam contra o racismo e a discriminação

O assassinato de George Floyd nos Estados Unidos, pelas mãos da polícia, desencadeou uma onda de indignação popular no país e no mundo. Manifestações massivas, ações diretas contra a polícia em resposta à repressão têm sido comuns nessas semanas. Esse assassinato, que se soma a outros tantos milhares, revive os amplos protestos de 2014 nos Estados Unidos a raíz de numerosos assassinatos da população negra, especialmente jovem.

Esse fato deixou em evidência o profundo racismo que existe nas sociedades atuais. Na Europa, milhares de imigrantes reivindicam seus direitos de serem tratados/as no mesmo pé de igualdade que a população branca. Também se exige o direito de acolhimento para milhares de pessoas que diariamente tentam cruzar seja o Mediterrâneo, seja da Turquia até a Europa. Tentativa na qual muitos morrem e tantos outros são duramente reprimidos ou alojados em campos de refugiados que, crescentemente, assumem a forma de cárceres.

Esse fenômeno evidencia o papel histórico do racismo na construção da sociedade capitalista. O desdobramento do capitalismo – muito antes da Revolução Industrial – contou com um elemento central: saques e genocídio de continentes e populações inteiras, assim como a apropriação de territórios, recursos e corpos por parte dos Estados europeus e sua burguesia; tudo isso para realizar a acumulação de capital logo investida em desenvolvimento da indústria e maquinaria no século XVIII. Foi essa estratégia colonial de saques de recursos em toda América, acompanhada da escravidão e tráfico de seres humanos na América do Sul e em África que permitiu a consolidação do capitalismo.

Logo, em outra etapa de desenvolvimento do sistema, já no século XIX, se desenvolve a expanção imperialista ou colonial européia sobre África, Ásia e Oceania, com um incontável saldo de mortos, violações, saques, repetindo a conquista realizada séculos antes na América e agora no resto do planeta. Se expande, assim, o capitalismo ao resto do mundo e converte-se em um sistema mundial. É inerente ao capitalismo o saque, a destruição e o genocídio: está em seu DNA. Ocorre com o racismo o mesmo que o patriarcado: o capitalismo se constrói na exploração dos corpos, transformando-os em territórios e elementos que permitem seu funcionamento e reprodução.

O racismo é um elemento estrutural do sistema capitalista. Pois para poder espoliar o resto do planeta – incluindo dentro dos países desenvolvidos -, o sistema e as classes dominantes necessitam estabelecer a quem se impõe a dominação e o saque. Os conquistadores europeus e os senhores coloniais encontraram a legitimação desta decisão rapidamente nas pseudo-científicas “teorias da raça”, que reivindicavam a existência de diferentes “raças humanas” e as ordenavam em hierarquias, cujo topo supostamente estava sempre “a raça branca”, ou seja, os próprios europeus.

Assim, o racismo destinava e destina lugares subalternos a grande parte da população, incluindo continentes inteiros. Como é visto na relação entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos. O sistema capitalista, baseado na divisão das classes sociais, também organizou-as, em boa medida, a partir da discriminação racial ou por cor de pele. Separado do racismo há outros fatores que desempenham um papel, alguns dos quais estão entrelaçados e são mutuamente dependentes, como a construção do Estado-nação, que divide os oprimidos e oprimidas e desvaloriza todos aqueles/as que não pertencem ao coletivo nacional. O Estado-nação constitui assim um dos fundamentos da normalidade racista e capitalista.

Na Europa e América, a maioria das pessoas não-brancas são pobres e herdam todo o legado da história colonial que mencionávamos. Estas sempre encontraram os empregos pior remunerados, sem seguridade social nem benefícios, acesso precário à saúde/moradia e constantemente sujeitos ao assédio e violência policial como se demonstra nos EUA, Europa e também nas favelas do Brasil, com um verdadeiro processo de matança organizada contra a população negra e jovem.

Ou seja, o racismo não é nem uma derivação da estrutura econômica da sociedade capitalista nem um problema secundário. Ao contrário, devemos dizer que foi sob o racismo e sob a discriminação racial que instalou-se o sistema capitalista – que não é exclusivamente econômico. É um sistema global, onde se opera o ideológico-político de forma relevante, os aspectos jurídicos e os que se servem do capital para sua expansão, os aspectos repressivos, comunicacionais, etc.

Com base no discurso racista, o sistema capitalista e os Estados mantêm zonas do planeta condenadas à fome, invasões e guerras constantes. Isso é necessário para que esse sistema genocida se mantenha; como também é necessário, de vez em quando, mostrar-se diferente e permitir, por exemplo, a chegada ao governo norte-americano de um presidente negro como Obama. Foi justamente no governo Obama que se deu o recrudecimento da violência policial contra a população negra, sendo uma clara evidência de que o racismo é estrutural ao sistema, aninhando-se em suas forças repressivas e em grupos racistas e supremacistas brancos – mesmo não somente neles em nível de sociedade -assim como possui um claro componente de classe. A face liberal do capitalismo permitiu uma pequena minoria da população negra ascender ao poder e às classes dominantes, mas apenas para fins de renovação e fortalecimento. “O capitalismo liberal” e “o Estado Democrático” não deixou de ser racista por colocar um presidente ou um empresário negro em uma posição de privilégio; certamente este é qualificado para aumentar o grau de espoliação e opressão sobre as maiorias sociais em todo o planeta.

Por isso, desde o Anarquismo Politicamente Organizado falamos da necessidade da construção de uma Frente das Classes Oprimidas, que reúna todos aqueles setores oprimidos e dominados pelo sistema. Trabalhadores/as formais e precarios/as, camponeses/as, população indígena, migrantes, desempregados/as e deslocados/as. Ou seja, possuem lugar na Frente todos aqueles setores que na sua vida cotidiana sofrem as consequências do sistema capitalista. Esse é o sujeito social que hoje se manifesta nas revoltas de todo o mundo e é o sujeito que há de se construir em uma perspectiva de fortalecimento organizativo do povo para os processos de ruptura, de revolução social que impulsionamos e desejamos.

O sistema capitalista não é meramente um sistema econômico, ou que se desprende exclusivamente de suas bases econômicas. Entendemos que a luta contra o racismo e a violência estatal que os sustentam é também uma luta contra as estruturas do sistema capitalista, que é um sistema de fome, morte e violência sobre as e os oprimidos do mundo, qual seja a cor de sua pele ou idioma. Justamente, contra esse Estado que não tem sido “neutro” no desenvolvimento do sistema capitalista – senão um elemento central e organizador do mesmo -, chamamos então a favorecer e apoiar sempre a auto-organização e a luta de todas e todos os oprimidos!!

Como os poderes políticos e econômicos tratam como “outros/as” a quem não lhes juram lealdade, assumem assim o papel de “garantir” que cada conflito na esfera social fortaleça sua própria sobrevivência, por meio dos ataques racistas e discriminadores que incrementam-se na sociedade. Enquanto isso capitalismo e o Estado fortalecem sua repressão e militarização na esfera social com novos produtos químicos, balas, mobilizações civis racistas, a polícia e o exército: agora é tempo de lutar contra eles!!

VIVA A LUTA DOS POVOS CONTRA O RACISMO E TODA FORMA DE OPRESSÃO!!

PELA CONSTRUÇÃO DO PODER POPULAR E UMA FRENTE DAS CLASSES OPRIMIDAS!!

ARRIBA LOS Y LAS QUE LUCHAN!!

Federación Anarquista Uruguaya (FAU)
Embat-Organització Llibertària (Catalunya)
Federación Anarquista Rosario- FAR (Argentina)
Zabalaza Anarchist Communist Front -ZACF (Sudáfrica)
Anarchist Communist Group (Gran Bretaña)
Federación Anarquista (Grecia)
Bandilang Itim (Filipinas)
Devrimci Anarşist Faaliyet – DAF (Turquía)
Melbourne Anarchist Communist Group-MACG (Australia)
Aotearoa Workers Solidarity Movement -AWSM (Nueva Zelanda)
Coordenaçao Anarquista Brasileira-CAB (Brasil)
Anarchist Union of Afghanistan and Iran-AUAI (Irán /Afganistán)
Organización Anarquista de Córdoba -OAC (Argentina)
Union Communiste Libertaire (Francia)
Alternativa Libertaria /FDCA (Italia)
Organisation Socialiste Libertaire-OSL (Suiza)
Workers Solidarity Movement- WSM (Irlanda)
Die Plattform-Anarchakommunistische Organisation (Alemania)
Libertaere Aktion (Suiza)

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