OS LIBERTICIDAS DA EXTREMA DIREITA
O libertário desde as primeiras lutas operárias são os partidários da igualdade radical com a abolição da propriedade privada e a afirmação de todas as liberdades políticas de um regime federalista que se organiza de baixo para cima, pelas comunas, locais de trabalho e ramos de produção. O socialismo sempre foi o canteiro de obras do libertário, da construção de uma sociedade sem exploradores e nem explorados, onde o poder social não fosse usurpado por uma elite burocrática ou ditatorial, qualquer que seja seu nome.
A liberdade de passar fome e de afundar desamparado no cada um por si do mercado dos donos da propriedade é uma piada de mau gosto. A pobreza é a liberdade de coisa nenhuma. E “aquele que atenta ou destrói as liberdades de um povo” segundo qualquer dicionário é um liberticida.
A eleição de Javier Milei e seu governo de choque neoliberal na Argentina planta uma impostura que tem sido parte das armas da extrema direita, nessa onda reacionária que avança no terreno de múltiplas crises que acomete o mundo capitalista. Desinformar, confundir, distorcer, criar mal entendidos nesse jogo, para ter efeitos a seu favor ou apoderar-se de palavras e conceitos que são ideias fortes que navegam na corrente imaginária dos sonhos e rebeldias de nossos povos.
Nesse campo de lutas é bem certo que jogam oportunistas de plantão, aqueles vermes do sistema das oligarquias que se movem pelo cheiro do dinheiro e do poder, não importa o que se diga. Mas atuam também espertos formuladores e quadros de uma doutrina de mercado liberticida, que tem seu próprio projeto de sociedade e busca se impor a todo pano na cena política. Entre os de baixo, por suposto, há uma porção de gente enganada ou iludida com o discurso de Milei e os direitistas mais brabos. Contudo, uma leitura mais atenta desse fenômeno aconselha não ignorar os efeitos ideológicos de uma experiência popular frustrada que nos brindam governos progressistas e partidos de esquerda cada vez mais brandos e ajustados a ordem burguesa do neoliberalismo.
Há uma significação difusa de mal estar em nossas sociedades que a extrema-direita convoca e organiza com uma proposta radical que a esquerda renuncia com seus compromissos e negociações com o mundo estabelecido. Só que o radical nesse caso é a luta ofensiva da propriedade, com um Estado policial e a tecnocracia do ajuste de piloto. Para que fique bem explicado: um programa máximo para os capitalistas e todos os meios de governar e atacar feroz as demandas populares e qualquer risco de poder que venha de baixo sobre as decisões do bem comum.
A “liberdade” de Milei é o mercado devorando tudo com o gatilho do Estado policial
Liberdade! diz em alta voz Milei e a extrema direita que se alça ao governo pelas eleições da democracia liberal burguesa. Já Bolsonaro joga pra sua torcida o chavão de raiz integralista: “deus, pátria, família e liberdade”. Um tipo aparente de “liberdade”, muito casual e suspeita, que está de mãos atadas com o privilégio e a injustiça, como vacinou Bakunin diante do regime de exploração e desigualdade do sistema capitalista.
Já tem um tempo desde que a crise e a emergência foram normalizadas, desde que se instaurou como regime neoliberal um modo de governo agressivo praticado para quebrar as conquistas populares que historicamente tem colocado algum limite a ganância e a opressão. A liberdade burguesa figura nessa relação de forças como o direito privado e supremo do capital de instituir o mercado, a concorrência e a empresa como modelo social. De liquidar tudo que se opõe a isso, e não de suprimir mas de articular o Estado com essa lógica, para a segurança e a reprodução desse modo de vida.
O ultracapitalista J. Milei começa o seu governo com um pacote repressivo para enfrentar o protesto social ao seu programa. Proibe piquetes, ocupações, burocratiza e policia o direito de manifestação para anular os métodos de ação direta popular. E com a outra mão aplica um arrocho brutal na vida dos pobres com paralisação de obras, aumento de tarifas, congelamento do orçamento, demissão de funcionários e desmonte do serviço público diante de um cenário com inflação de mais de 290% ao ano e metade da população na pobreza.
Estado de segurança neoliberal. Lei e ordem contrainsurgente para a pobreza e o protesto.
Ajuste e repressão, militarização da cena pública como vimos no Brasil, mão dura sobre o inimigo interno que não se ajusta as regras do mercado, são duas facetas que se articulam e compõe as práticas de governo do capitalismo neoliberal, com um nível muito maior de violência na periferia do sistema mundial. Nada de fim do estado ou outras balelas, mas outra articulação dessa instância com a economia e o social. Um Estado forte e mais autoritário para policiar o protesto, uma ordem jurídica para ajustar as instituições e a sociedade conforme o jogo do mercado, não deixar que as pautas populares tenham alguma decisão que contrarie os interesses dominantes.
A radicalização neoliberal por extrema-direita não é abolicionista do Estado. Essa retórica não dura a primeira revolta de massas, a primeira greve que arrisque seus negócios ou seu projeto. O capitalismo não admite que o poder político seja socializado e caia nas mãos de um sistema de democracia de base onde a participação popular de baixo até em cima seja quem decida sobre a sociedade que queremos ser. Quando muito o sistema tolera uma democracia liberal muito restrita ao jogo das oligarquias, com alguma cota de representação do reformismo para dourar a pílula, com um Estado policial de prontidão para agir no primeiro sinal de que as coisas fogem do controle.
Liberdade inimiga do igualitarismo, dos bens coletivos e da solidariedade não é liberdade de nada, a miséria não torna ninguém mais livre, o que estamos falando é de um projeto liberticida ao gosto das estruturras de poder dominantes. Por isso dizemos que são liberticidas e nunca libertários no significado radical e emancipador do conceito, são violentos capitalistas e por isso tão amigados com o fascismo e os grupos mais reacionários que estão na cena social e histórica agora.
Federação Anarquista Gaúcha [FAG]