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Merong Kamacã PRESENTE!

Na última segunda-feira, dia 04 de Março, toda militância indígena, militantes de frentes de luta territoriais e demais lutadores e lutadoras sociais, acordamos com a triste notícia da morte da jovem liderança indígena Cacique Merong Kamakã Mongoió. O Cacique Merong era a sexta geração de família Kamakã Mongoió, do povo Pataxó Hãhãhãe e era a liderança que conduzia a retomada do território Kamakã Mongoió, em Córrego de Areia, no município de Brumadinho, em Minas Gerais. A retomada está fixada em território de interesse da mineradora Vale.

Encontrado com indícios de enforcamento, foi levantada a hipótese de suicídio, versão questionada por sua família e comunidade, além de entidades indígenas e demais militantes que mantinham contato com Merong, que afirmam que pouco antes de sua morte o Cacique falava em ampliação da luta de seu povo. Por este motivo, solicitam investigação e apuração de sua morte, objeto de interesse da mineradora e demais agentes sociais contrários a demarcações de terras indígenas.

Os Kamakã Mongoió denunciavam o projeto de mapeamento e exploração da empresa Vale, em torno das nascentes de água no estado de Minas Gerais e intensificaram essas denúncias a partir de 2021, com o início de sua retomada territorial.

Merong Kamakã Mongoió era uma liderança reconhecida em todo movimento indígena e atuou em lutas de norte a sul do país, sendo um importante aliado dos Guarani M’bya em Mato Preto e Maquiné no Rio Grande do Sul, dos Xokleng-Klongui, em São Francisco de Paula, tambémno RS, do povo Kaingang em Florianópolis, além estar constante ação com os Xukuru Kariri que também vivem em uma retomada no estado de Mina Gerais. Sua presença era constante na luta pela terra, contra o Marco Temporal e qualquer forma de ameaça aos direitos dos povos originários e contra a destruição da natureza.

Merong era um valoroso artesão e educador de seu povo e manteve-se íntegro e firme, apesar das constantes ameaças que vinha sofrendo. Em sua despedida, seu povo foi pego de surpresa com uma liminar emitida pela justiça mineira que impedia o seu sepultamento conforme a tradição e cultura de seu povo, em seu território.

O sistema lhe negara a terra em vida e também tentou lhe negar em morte. Por essas e todas outras violências, nos solidarizamos com o povo Pataxó Hãhãhãe e os Kamakã Mongoió, em sua justa luta pela terra, por autodeterminação e denunciamos essa trágica morte.

Merong foi plantado e dele nascerão novas sementes! Pela demarcação da Terra Indígena Kamakã Mongoió, em Córrego de Areia.

Cacique Merong Presente!
Demarcação Já!
Não ao Marco Temporal!!!