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MEMÓRIA: 8 ANOS DA MAIOR ONDA DE OCUPAÇÕES DE ESCOLA DO MUNDO!

No dia 03 de outubro de 2016, os estudantes do Colégio Estadual Arnaldo Jansen, localizado em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, ocuparam a sua escola em protesto contra a MP da Reforma do Ensino Médio e a PEC do Teto de Gastos, marcando o início daquela que se tornou a maior onda de ocupações de escolas do mundo, com mais de mil escolas ocupadas em todo o Brasil, sendo cerca de 800 apenas no estado do Paraná.

Em um contexto de aprofundamento do Estado Policial de Ajuste, iniciado anos antes com a adoção de políticas de austeridade e criminalização da pobreza pelos governos petistas de turno e acirrado pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e a ascensão de seu vice, Michel Temer (PMDB), à presidência da República, os estudantes romperam com o imobilismo das centrais sindicais e entidades estudantis burocratizadas e aplicaram os princípios da autonomia e da ação direta para defender o direito da juventude de se educar e não ser reduzida a mão de obra para o mercado de trabalho. 

É evidente que, com ou sem Reforma, a educação estatal e capitalista promovida pelas escolas públicas e privadas está longe de ser a educação integral e libertária que nós, anarquistas, almejamos, mas o Novo Ensino Médio nos afasta dela ainda mais, promovendo um ensino fragmentado, utilitarista e voltado a formar sujeitos bem adaptados técnica e subjetivamente às atuais demandas do modo de produção capitalista, que incluem uma determinada sociabilidade que o sustente. 

Mas é por defender uma forma de educação radicalmente diferente da que está posta que  destacamos que as ocupações secundaristas puderam ainda colocar em prática o princípio anarquista da autogestão, quando os estudantes tomaram para si os rumos das suas escolas, assumindo responsabilidades que envolviam segurança, limpeza, alimentação, contato com o restante da comunidade escolar, com outras escolas ocupadas e apoiadores do movimento e até mesmo colocavam em prática diferentes formas de educação e de organização escolar, entendendo-se como sujeitos ativos no processo de ensino-aprendizagem. Oficinas artísticas, aulões, cine-debates, eventos culturais e resolução de problemas estruturais das escolas foram algumas das atividades promovidas nas ocupações.

O Coletivo Anarquista Luta de Classe (CALC/CAB) e a militância libertária do Paraná, aglutinados em torno d’A Outra Campanha, participaram diretamente dessa intensa jornada de lutas, apoiando diversas ocupações e tomando as ruas em protestos, como quando levamos para Brasília a palavra de ordem criada aqui: Autonomia, autogestão, é nóis por nóis defendendo a educação! 

Por isso, fazemos memória a essa data e reforçamos aquilo que afirmamos no episódio 2 do podcast da CAB Opinião Anarquista, que tratou da privatização da educação paranaense por meio do Projeto Parceiro da Escola: 

Se o governo é incapaz de gerir as escolas que compõem a rede estadual de ensino, nós precisamos tomar a educação das mãos dos de cima e devolvê-la para os de baixo, seguindo o exemplo dos estudantes secundaristas paranaenses que ocuparam e autogeriram mais de 800 escolas em protesto contra a Reforma do Ensino Médio e o Teto de Gastos em 2016!

Vale ressaltar que a Reforma do Ensino Médio só foi aprovada por se tratar de uma política nacional, e a onda de ocupações de escolas não se nacionalizou naquele momento. Porém, se hoje acontecesse uma onda de ocupações na mesma proporção de 2016 para barrar o Parceiro da Escola, certamente o projeto seria derrubado.

É a radicalização que faltou nesse momento, mas que aponta o caminho para as vitórias que almejamos: não há saída fora da luta coletiva, construída desde a base e unindo professoras, professores e estudantes na defesa de uma educação para o povo!

COORDENAÇÃO ANARQUISTA BRASILEIRA