As manifestações de rua e o sentido estratégico de nosso trabalho
A luta popular de rua voltou a fazer parte de nossas vidas, passado um ano e meio de pandemia. Das vidas de quem sempre acreditou na ação direta popular como a que define vencedores e perdedores, a longo prazo. Embora reúnam todo tipo de gente, as manifestações de rua materializam a unidade possível nesse momento. Unidade na rua entre os setores já organizados – sejam eles organizados social e/ou politicamente – , junto com partidos de oposição ao governo, mais aquelas parcelas de trabalhadores com certa tradição de mobilização, junto à diversidade de gente, setores e ideologias à esquerda.
Nós da CAB nos somamos a essas mobilizações, mesmo que elas tenham limites muito concretos. Mesmo que sejam novidades no contexto da pandemia, são parte de um repertório já clássico do reformismo: pressão popular + pressão política parlamentar. Dada a hegemonia do lulismo, não só pela capilaridade que ainda mantém no movimento sindical e popular, mas pela concepção de luta que vemos nas ruas, não será esse tipo de manifestações que derrotarão o governo de turno, quem dirá o caldo ideológico que o sustenta e vai além. O conservadorismo, o culto à violência, a militarização da vida social, o racismo e o machismo possuem raízes na própria formação social colonial, escravagista e violenta do país. A frustração com os governos petistas e as práticas burocráticas e verticais das esquerdas brasileiras só ajudaram a piorar o quadro, e a eleição de Bolsonaro é resultado e não a causa disso tudo.
De qualquer maneira, nossa militância cotidiana não pode se resumir a mobilizar para atos de rua nacionais. Precisamos aumentar em volume e regularidade as mobilizações setoriais e nas periferias, não só com a pauta anti-Bolsonaro mas com as demandas mais sentidas pelo nosso povo. Algumas delas com raízes nas políticas gerais do governo e comuns a amplos setores, outras mais setorizadas e com causas em políticas de governos estaduais e municipais. A urgência não é apenas tática, é estratégica. Se não avançarmos na ORGANIZAÇÃO POPULAR, as mobilizações passarão e o que ficará além do sentimento de indignação? As eleições de 2022, independentemente do resultado que tenham, não irão mudar substancialmente a correlação de forças que hoje é favorável à retirada de direitos, aumento do custo de vida e deterioração das condições de vida, não importa o partido que assuma o governo de turno para gerir o capitalismo.
Por isso, para nós anarquistas organizados na CAB, cada tática, cada iniciativa e cada ação no HOJE deve, além de buscar melhorias concretas, apontar em um sentido estratégico, aumentando as experiências de luta direta dos diferentes setores das classes oprimidas, ampliando o horizonte e imaginário do nosso povo e organizando mais e melhor em cada território e local de trabalho e de estudo.
E para isso, a unidade que querem o lulismo e suas burocracias não nos serve, pois se resumem às manifestações de rua e às eleições burguesas.