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[FAQUIR] Não é natural! Nota sobre as chuvas na Bahia

O que começou como um final de ano atípico, com muitas chuvas em vez do sol característico do começo do verão, transformou-se em um dos maiores desastres já vivenciados pelas comunidades baianas. Nos últimos dias acompanhamos desoladxs a enxurrada de notícias sobre enchentes, desabamentos e cidades inteiras submersas pela água, ao todo em torno de 136 cidades estão em estado de emergência, especialmente na região Sul, que foi a mais afetada.

É a pior enchente dos últimos 35 anos, dizem as manchetes, uma verdadeira catástrofe, são cerca de 136 cidades atingidas, mais de 60 mil pessoas desabrigadas. 

Não é surpresa para nós a falta de comoção do governo federal. Graças a rixa política dos de cima, a xenofobia e o racismo direcionados a nossa região, o nordeste, e especialmente a Bahia, não somos uma prioridade. 

Somos vistos pelo eixo sul-sudeste do país quando nossas águas são cristalinas e calmas, quando nosso povo dança e os recebe de sorriso aberto. Agora não, não enquanto sucumbimos em meio a lama, que não é um mero acaso da natureza. 

Nós sabemos que os desastres que nos atingem são tudo, menos naturais. Mesmo que a atenção já esteja voltada para outros lugares, não faz muito tempo que nossas praias foram tomadas de óleo, derramamento criminoso que atingiu com força comunidades pesqueiras e marisqueiras. Também as águas que sobem mais do que o normal, mais do que foi visto em três décadas, é fruto da exploração predatória da natureza, da urbanização desordenada, da negligência do Estado, de mudanças climáticas que não começam nem se encerram em 2021. 

Muitas comunidades quilombolas e indígenas foram atingidas e desoladas pelas enchentes, é principalmente delas que a FAQUIR tem buscado divulgar e apoiar campanhas de emergência. Essas comunidades sabem o que o saber ancestral nos ensina, a culpa não é do rio, da chuva, ou das águas. A culpa é da relação que estabelecemos com a natureza, da imposição do capital contra nossos territórios. Essa conta sempre chega, mais cedo ou mais tarde em todas as regiões, e nós sabemos que quem paga o preço são sempre as comunidades mais pobres, são sempre aquelas e aqueles que não podem fazer muito diante do trabalho de toda uma vida escorrendo rua abaixo. São sempre as e os de baixo que encaram o saldo negativo do lucro de mega empresas e do próprio Estado. 

Nesse momento emerge também da lama e dos destroços a solidariedade do nosso povo, centenas de campanhas de arrecadação e voluntários se concentram em dá algum suporte imediato as pessoas que perderam tudo. Há cidades em que nem as escolas podem servir de local para xs desabrigadxs, pois foram também destruídas, onde se precisa de água potável e fósforos, comida que não precise ser cozida e tudo de mais básico.

Somos nós por nós desde sempre, e contamos nesse momento também com a solidariedade de nossos companheiros e companheiras de outros Estados. Mas isso não quer dizer que fecharemos os olhos para a omissão desse Governo, eles nos devem, cada centavo gasto em festanças da família Bolsonaro, cada centavo desviado e superfaturado, uma riqueza que deve servir ao povo. 

Os prejuízos são incalculáveis para milhares de vidas, o desespero toma conta de nosso cotidiano e não ficaremos calados diante disto. Não podemos naturalizar esses acontecimentos, esperando a próxima tragédia a cada esquina. Não podemos continuar deixando o uso abusivo das nossas terras e águas, da nossa fauna e flora.

Enquanto os de cima continuam jogando com nossas vidas e territórios, sabemos que o apoio solidário real vem da união dos povos, da união de quem luta para sobreviver e resistir a esse sistema destruidor e é por isso que nos solidarizamos com todas e todos que sofrem hoje na Bahia, e usamos nossas mídias para divulgar campanhas de arrecadação de movimentos sociais que sempre estiveram a frente do combate contra as opressões do sistema capitalista.

A população baiana precisa mais do que nunca de seu apoio para continuar resistindo e reconstruir seus territórios, doe, compartilhe e se posicione. 

Resistir e lutar para construir poder popular e bem viver entre nós é o nosso horizonte hoje e sempre.

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