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Como votam as e os anarquistas? Nas lutas!

Nas lutas do povo negro!

Em períodos como este, muito se fala na necessidade de o povo negro ocupar os espaços de poder do Estado. Como se toda a herança escravocrata e colonialista brasileira estivesse com os dias contados, se o número de parlamentares negros crescer nas câmaras municipais. Enquanto isso, o Capitalismo e o Estado seguem com a violência racista cotidiana.

O caso de Beto Freitas, brutalmente assassinado por seguranças de um Carrefour em Porto Alegre, não foi exceção. Nos últimos dez anos, enquanto os assassinatos de homens e mulheres brancas caíram no país, as mortes de negros e negras cresceram, segundo o Atlas da Violência.

Acreditamos que a solução para esse cenário não é depositar um voto nas urnas para tentar mudar a correlação de forças dentro dos parlamentos. Como anarquistas revolucionários, defendemos a construção e o fortalecimento dos movimentos sociais, na perspectiva de auto-organização do povo negro, firmando resistência e cerrando punho na construção do Poder Popular. Só isso poderá destruir o racismo e a supremacia branca, assim como toda forma de dominação!

“Não acreditamos no debate de opressões enquanto luta contra ‘privilégios’, nem cremos no ’empoderamento’ individual, e sim que estes eixos fazem parte da forma como se estrutura a sociedade. O único empoderamento possível é construir o poder negro real, coletivo, no seio do movimento social em conjunto dos setores oprimidos: negros e negras, povos da floresta, camponeses, mulheres e trabalhadores em geral.” – Racismo e Dominação Colonial, Revista Socialismo Libertário n.4

Leia a revista em PDF aqui ou procure uma de nossas organizações para aquisição dela impressa.

Nas lutas das/dos trabalhadores de aplicativos

A precarização do trabalho e o alto desemprego jogaram muita gente pro trabalho informal, e os serviços de transporte e de entrega por aplicativo foram os que mais cresceram nesses últimos anos. As grandes empresas do setor se aproveitaram disso, e diminuíram os rendimentos desses trabalhadores e trabalhadoras, que tiveram que trabalhar muito mais para ganhar o mesmo que ganhavam antes. A situação ficou ainda mais séria com a pandemia, quando o pessoal teve que se arriscar nas ruas, sem que os aplicativos dessem qualquer apoio.

Fazer frente a isso não foi trabalho de nenhum político profissional: os próprios trabalhadores e trabalhadoras estão se organizando, fazendo paralisações e outros tipos de mobilização, para terem melhores condições de trabalho. Nós, anarquistas organizados na CAB, votamos nas lutas dos trabalhadores e trabalhadoras de aplicativos, divulgando suas lutas, levantando a solidariedade de clase nos espaços onde militamos, e também fortalecendo a auto-organização de entregadores/as e motoristas, onde nossa militância trabalha nesses setores.

Acreditamos que só, assim, fortalecendo os movimentos desde baixo, que teremos condição de construir um processo de transformação social, que acabe com a exploração e qualquer tipo de dominação!

Nas lutas das mulheres!

A violência contra a mulher tem raízes profundas na nossa sociedade patriarcal e machista, e se expressa de várias formas: controle da natalidade e sexualidade, trabalho doméstico não remunerado, assédios morais e sexuais, tortura psicológica e violência física, e são ainda mais graves com mulheres negras e empobrecidas.

Essa violência também é institucional, produzida e reproduzida pelo Estado. A desigualdade de gênero é mais um mecanismo útil de dominação, ainda mais se levarmos em conta que são homens brancos a grande maioria dos que ocupam os postos de poder estatal.

Mas não acreditamos que aumentar a presença de mulheres no Estado pode transformar e superar esse cenário. É na luta das de baixo, com a construção coletiva em nossos territórios, que podemos aumentar a força social para derrubar o sexismo e o patriarcado. É por isso que votamos nas lutas das mulheres, na construção cotidiana nos bairros, nos locais de trabalho e de estudo, no campo e nos demais territórios onde estão as classes oprimidas, pelo Poder Popular!

Nas lutas indígenas e quilombolas

Os povos originários e quilombolas seguem sob ameaça em tempos de democracia. A “Constituição Cidadã” de 1988 garantiu direitos no papel, que mais de 30 anos depois são violados sistematicamente pelo próprio Estado.

A resistência dos indígenas e quilombolas, mesmo sob ameaças e violências, mostra que a luta pelo direito à terra e ao território tem importância central no país. Apesar dos mecanismos de garantia de direitos conquistados duramente, o Estado é aliado do Capital na expulsão, empobrecimento e genocídio desses povos. Como instrumento das classes dominantes, o Estado não é neutro nesses casos. Muitas vezes, políticos e juízes são donos de terras ou têm relações muito próximas com esses grandes proprietários, então não devemos ter qualquer ilusão com esse espaço.

Por isso, nós anarquistas da CAB, apoiamos as lutas dos povos da floresta e dos quilombos, mantendo laços de solidariedade, defendendo as conquistas históricas dos movimentos pela soberania dos territórios, na denúncia do etnocídio e contra a negação de direitos conquistados historicamente. Nestas eleições e fora delas, votamos nas lutas indígenas e quilombolas!

Nas lutas das/os terceirizados

Há alguns anos a terceirização se aprofundou nos setores públicos e privados, processo facilitado pela aprovação de leis que só favorecem empresários. Trabalhadoras e trabalhadores terceirizados ganham menos, têm menos estabilidade no emprego, jornadas mais longas, e correm mais riscos, como acidentes de trabalho. Também contam com sindicatos enfraquecidos, com muitas direções apenas interessadas no jogo de poder com os de cima.

Nós, anarquistas, estamos ombro a ombro com as terceirizadas e terceirizados, fortalecendo a auto-organização dessas/es trabalhadoras/es na luta por melhores condições de trabalho, salários dignos e respeito a seus direitos. Nesse período de pandemia, em que elas e eles estiveram mais expostos ao contágio, participamos de mobilizações e denunciamos a negligência dos patrões.

É um cenário de precarização das relações e condições de trabalho, que no jogo político não teve resistência à altura. Acreditamos que é só na ação direta das trabalhadoras e trabalhadores que esse cenário pode mudar. Por isso, nestas eleições votamos na luta das/os terceirizadas/os, fortalecendo a solidariedade de classe e a organização!

Nas lutas LGBTQIA+

A diversidade sexual já foi considerada distúrbio mental, e ainda hoje é fruto de muito estigma e violência. O Brasil é um dos países com maior número de agressões e assassinatos contra a população LGBTQIA+, fruto de uma cultura firmada no patriarcado, na heterossexualidade compulsória e no conservadorismo, que mantém as hierarquias e dominações na nossa sociedade.

Enfrentar a marginalização e as violências dessa população é urgente, e deve se dar em todos os espaços em que estamos inseridos, aliados às lutas classistas e antirracistas das periferias do mundo.

Discordamos da leitura de que os avanços virão a partir da conquista de cadeiras entre vereadores e deputados. A experiência recente mostra como figuras da própria esquerda rifaram as pautas LGBTQIA+ em nome das conveniências eleitorais, e da governabilidade da democracia burguesa. Como anarquistas e revolucionários, concentramos nossas forças nas lutas concretas nas ações de base, promovendo o autocuidado, o apoio mútuo e a solidariedade a coletivos combativos de diversidade. Ação direta pela vida das pessoas oprimidas!

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