Chuvas em SP: mais de 30 mortos pelos crimes do Estado e do Capital!
Depois das tragédias em cidades da Bahia e de Minas Gerais, várias cidades de São Paulo foram atingidas por fortes chuvas no fim de janeiro, que deixaram um rastro de destruição e morte. Até o momento são 34 vítimas, além de mais de 5 mil famílias desabrigadas ou desalojadas. Diferentemente do que dizem os governantes e a grande mídia, a Natureza não é a maior culpada por essas mortes, e sim as classes dominantes, que contribuem para as mudanças climáticas e para o empobrecimento da classe trabalhadora.
Mais da metade das vítimas são de Franco da Rocha, considerada cidade-dormitório de São Paulo. Todas viviam no mesmo bairro, e moravam em casas construídas em um morro que desmoronou. A cidade tem somente 13% da população empregada, enquanto a média no estado é de 50%. Ou seja, grande parte da classe trabalhadora de Franco da Rocha está desempregada, sobrevivendo de trabalhos eventuais e auxílios do governo. A isso se soma o racismo ambiental: muitas famílias negras foram expulsas de cidades mais centrais da grande São Paulo, e se veem obrigadas a morar em áreas mais vulneráveis para não ficarem na rua.
Cabe lembrar das responsabilidades do Estado em relação a essas mortes, com a falta de política habitacional e de obras de infraestrutura nas cidades e bairros mais populares, enquanto bairros de classe média e burguesa concentram os recursos públicos. Duas semanas antes da tragédia, o governo paulista anunciou a construção de dois piscinões em Franco da Rocha, que vão ficar prontos em 24 meses. Há obras prometidas há mais de uma década que ainda nem saíram do papel. Sem contar os 33 mil imóveis vazios ou abandonados na grande São Paulo, enquanto cerca de 32 mil pessoas vivem nas ruas da capital.
As enchentes também são reflexo da forma como as cidades foram construídas, canalizando ou aterrando milhares de rios sob o concreto, e destruindo as matas ciliares. Mas as causas vão muito além: as fortes chuvas deste verão são mais uma expressão das mudanças climáticas, com eventos extremos cada vez mais intensos provocados pelo aquecimento global. Aí não se trata simplesmente de “atividades humanas”, mas sim de ação consciente das classes dominantes, que em nome da acumulação desenfreada vão destruindo as condições de vida no planeta.
Como revolucionários, sabemos que o sistema capitalista não vai resolver os problemas que são causados por ele próprio. No nível mais imediato, devemos apoiar os movimentos que fazem ocupações de prédios e terrenos, como forma de denúncia e pressão para que haja moradia digna para todas e todos. Também é preciso construir e fortalecer as iniciativas de auto-organização popular nas comunidades, e lutar contra a precarização do trabalho e por emprego digno. Além disso, lutar pela reforma agrária, desconcentrando a população nas grandes metrópoles, além de ecologizar os espaços urbanos. Ainda se faz necessário combater o brutal avanço capitalista sobre a Natureza, ao colocar os lucros sobre todas as formas de vida, e ver essas tragédias apenas como efeito colateral. Para isso também é importante a articulação internacional com movimentos ao redor do mundo.
Desde o anarquismo especifista, atuamos cotidianamente nos movimentos populares, na construção de uma Frente de Classes Oprimidas que acumule força social para superar o Estado e o capitalismo, e construa uma sociedade auto-organizada, sob bases ecológicas e que preserve todas as formas de vida!
Coordenação Anarquista Brasileira
Fevereiro de 2022