A CAB diz: Abaixo ao golpismo bolsonarista! Combater nas ruas a extrema-direita!
Inflamada pela retórica fascista e financiada por setores do agronegócio e do empresariado, a base bolsonarista segue mobilizada, radicalizada e tomando as ruas com palavras de ordem golpistas, demonstrando que a vitória eleitoral da chapa Lula-Alckmin é incapaz de pacificar a guerra de classes e que se eximir da disputa nas ruas foi um grave equívoco de grande parte da esquerda brasileira que, desde a eleição de Bolsonaro em 2018, escolheu apostar no desgaste contínuo do então presidente visando às urnas.
Com capilaridade e grana, o núcleo duro do bolsonarismo vai criando um “balão de ensaio”, onde experimenta as possibilidades de impor sua força com os aliados, seja para sustentar a manutenção do poder político até as próximas eleições, seja para garantir alguma barganha para que Jair Bolsonaro possa vender caro sua saída, lhe garantindo algum salvo conduto; ou mesmo, caso encontrem brecha, para levar a cabo uma manobra golpista.
Além do investimento dos patrões, há ainda o apoio direto ou a permissividade do órgão repressor do Estado – as polícias, que são uma das bases de apoio de Bolsonaro e de seu projeto miliciano de segurança pública. Somada a isso, vemos a máquina de desinformação do bolsonarismo disseminar a narrativa golpista de extrema-direita, resultando no sujeito político radicalizado do bolsonarismo: esse soldado-militante, que sai de casa pro confronto, pronto pra praticar violência política e com discurso incendiário de intervenção militar.
A parcela mais radicalizada do bolsonarismo usa táticas de ação direta que até pouco tempo atrás eram muito mais familiares aos movimentos populares mais radicalizados da esquerda, como o piquete nas estradas, e agora conclamam uma “greve geral” – só que dos patrões. Diante disso, o discurso da centro-esquerda, das direções sindicais e dos partidos em torno da chapa vitoriosa Lula-Alckmin é o de nunca revidar, enfrentar o ódio com amor, respeitar a institucionalidade (as mesmas instituições cúmplices do bolsonarismo), ou até mesmo aguardar que o movimento de direita sufoque por si mesmo. A consequência direta desse discurso é facilmente verificável na realidade: as ruas são esvaziadas pela esquerda e dominadas pela extrema-direita e, com isso, todo o espectro político, principalmente a esquerda, é arrastado mais à direita nessa dança institucional pacificadora, silenciosa e conivente.
Porém, como povo oprimido que lê sua classe na história, sabemos que carregamos na formação social brasileira genocida e colonialista a impossibilidade do pacifismo. A revolta e a violência permeiam o cotidiano do povo, especialmente nas periferias e no campo. Sendo assim, precisamos retomar a ação direta e a autonomia das e dos de baixo na disputa diária por vida digna nas ruas e com os nossos métodos de luta. Caso contrário, essa revolta será canalizada pelos interesses das classes dominante, seja institucionalmente ou materializado no ódio à esquerda – e também às mulheres, à população negra, favelados, indígenas, quilombolas, LGBTs, imigrantes, etc.
Precisamos fazer luta popular lado a lado a setores mais radicais e arrancar os espaços populares que foram ocupados pela extrema-direita. É urgente que o povo se organize e retome as ruas como uma Frente de Classes Oprimidas, lutando pelas pautas que nos são urgentes: a miséria que nos assola, a perda de nossos direitos trabalhistas e a precarização do trabalho, o aparelhamento e desmantelamento da educação, o enfrentamento ao genocídio de Estado e à violência policial racista, o combate ao machismo, feminicídio e a LGBTQIA+fobia, a luta por terra e território de povos indígenas e quilombolas, a necessidade do aborto legal e seguro para todas as pessoas com útero, a defesa da população trans em vulnerabilidade social, dentre muitas outras pautas que nos têm sido negadas. Sem a construção cotidiana com quem é mais precarizado e violentado por esse sistema não há conquista de direitos e muito menos perspectiva de transformações radicais.
A conjuntura anunciada será difícil: um governo Lula-Alckmin enfrentando uma crise internacional; a economia brasileira destruída; Congresso e base de governo tomados pelo Centrão, que tem como prioridade sequestrar o plano do governo petista; e um bolsonarismo forte focado em fazer oposição e mobilizar suas bases. As contrarreformas que tanto nos infligiram dor e perdas nos últimos anos, como o Teto de Gastos aprovado em 2017, não só não deverão ser revogadas, como também podem avançar outras de grande interesse para o setor defensor das pautas neoliberais e de conservação dos privilégios de uma determinada classe social. E qualquer tentativa de mobilização das classes populares poderá enfrentar oposição das cúpulas dos grandes movimentos sindicais e sociais, com o argumento de que as lutas poderão fortalecer o bolsonarismo.
Diante disso, acreditamos ser necessária a construção de uma alternativa revolucionária que se coloque com independência de classe, contra a conciliação e que priorize a ação direta em detrimento da disputa institucional. Ao anarquismo organizado, cabe responsabilizar-se pela construção desse setor e por influenciá-lo com seus princípios e métodos. Por isso, seguiremos atuando nos locais de trabalho, estudo e moradia e na luta diária por uma vida digna.
Em face do cenário de agitação golpista que se coloca, são tarefas imediatas à militância somar-se aos movimentos populares que agora mostram à elite golpista que haverá resposta das e dos de baixo ao ataque conservador. Articular contramanifestações e tomar as ruas – onde nós tocamos nossas vidas, por onde passamos todos os dias para trabalhar, nos divertir e lutar.
As táticas de rua não podem ser estigmatizadas e criminalizadas como a esquerda institucional vem colaborando a se fazer, são nossas ferramentas históricas de reivindicação e garantidoras de grandes conquistas! Que a ocupação das ruas se faça sem medo!
Além disso, é necessário fortalecer as ações de propaganda: somar nossas companheiras e companheiros para vencer o golpe patronal que está sendo testado. Trabalharemos para que o anarquismo seja uma força importante na construção dessa alternativa revolucionária, para superarmos imobilismo incentivado por grande parte da esquerda e desmascarar a elite neoliberal e todos os parasitas do povo, esmagando a extrema-direita nas ruas! Enquanto não tivermos uma vida digna para o povo pobre, preto, indígena, quilombola, camponês e periférico, que não haja paz para a elite!
A EXTREMA-DIREITA SERÁ ESMAGADA NAS RUAS PELO PODER POPULAR!
NEM MILICO, NEM PATRÃO: A SAÍDA VEM DO POVO!
Arte por: @pintelute.floripa