A tragédia climática mundial: QUE OS RICOS, AGRONEGÓCIO E TRANSNACIONAIS PAGUEM A CONTA.
“A evolução sem limites
É que arrebenta a represa
Levando tudo que existe
Na força da correnteza
Onde o tio Sam dá palpite
Não resta pão sobre a mesa
Pois nenhum povo resiste
À morte da natureza“
“Desde os tempos de Sepé” de Pedro Ortaça.
Não é de agora que se alerta para a catástrofe climática que o sistema neoliberal aplica a golpes duros de espoliação para todo o Meio Ambiente. O debate ambiental que passou pelo costado de muita analise politica, pouco compromisso e, durante muito tempo foi minimizado, ganha agora um destaque de urgência. Ao redor do mundo dispara o alerta para aumento da temperatura no hemisfério norte, lugar onde se regula com a importância a temperatura mundial. Grandes incêndios, fortes ondas de calor, inundações por quase por quase todo o globo ficaram mais graves e mais frequentes. Também não é de hoje que se denuncia com muita resistência na América Latina inteira os modelos exploração e domínio da natureza. Do colonialismo até projetos econômicos mais atuais, os métodos continuam tendo como por objetivos o lucros das elites, dos setores empresariais, de grandes corporações em detrimento da vida humana e todo o eco sistema que estamos incluídos. O saqueio ambiental aplicado pelo neoliberalismo durante décadas, nas mais variadas partes do planeta, traz consigo marcas de desgraças e transformações danosas a capacidade de viver com o mínimo de dignidade, principalmente aos mais pobres.
Devastar a Natureza, aprofundar a pobreza, dizimar populações e suas culturas é parte constitutiva modus operandi do capitalismo financeiro. E, os grandes acordos mundiais, geridos nas cúpulas de governabilidade das grandes potencias sobre o clima e o meio ambiente, estão muito longes das urgências ecológicas e humanas do planeta, na pratica não se cumprem e quem sofre as consequências mais severas é a natureza e as populações mais oprimidas do mundo. A devastação ambiental é gerida por um projeto literalmente de morte.
A chamada “transição para um Desenvolvimento Verde”, de verde só tem o nome, e o “desenvolvimento” é para poucos.
A grosso modo, esta nova pauta climática só realinha a capacidade dos blocos industriais, das grandes transnacionais de seguir explorando o Meio Ambiente, com uma fachada mais ecologista. Na pratica sabemos que não existe interesse político-econômico para reduzir as emissões de gases de efeito estufa jogados para a atmosfera, não existe interesse e nem vontade de buscar reverter ou quando muito equilibrar o desgaste ambiental no planeta. O disparo de alerta dos estudos científicos sobre o aquecimento global já foram ignorados diversas vezes pelas potencias mundiais, como se não bastasse isso, entra em cena estudos “científicos” fraudados por colaboradores dos modelos de exploração da Natureza para legitimar sua cultura de destruição. Plantam desinformação, relativizam as consequências climáticas e por consequência fomentam o nefasto negacionismo. Tentam amortizar os impactos e danos ambientais com falácias de desenvolvimento social, trabalho e qualidade de vida. E, o que se tem de fato é o absoluto contrário destas afirmações.
Durante décadas impuseram no imaginário social um estilo de vida do “ter” para “ser”. Visibilizaram e destroçaram as formas de vidas originárias para implantar a regra do consumismo voraz. Se tu não consomes determinado estilo de vida, esta fora dos padrões considerados normais.
Mas, a luta popular na América Latina contra este projeto de saqueio e morte sempre esteve viva e pulsante. Da América Central até a terra do fogo houve e há revoltas, ações diretas e mobilizações para denunciar e resistir ao avanço do neo liberalismo e suas consequências. A denuncia contra o Plano IIRSA foi um baita exemplo, lutas de grandes articulações e lutas mais localizadas, todas importantes e necessárias. O IIRSA após 20 anos de atuação, impactos irreversíveis e muita exploração em áreas de importância ambiental logrou construir caminhos facilitadores de retirada de bens naturais. É verdade que, perdeu força e não conseguiu consolidar todo seu pacote. Mas, estamos diante de uma nova adequação de sua mesma politica, por arranjo da nova configuração geopolítica mundial, que mira com sede para nosso continente, como é o caso da china e suas iniciativas econômicas, tanto no Brasil, como nos demais países da América Latina.
No Brasil, por exemplo, o Agronegócio é um dos pilares fundamentais para a destruição, de norte a sul, do nosso eco sistema. As transnacionais com sua massiva exportação de bens naturais e, seu alastramento em diferentes territórios cumpriu também, nas ultimas décadas, o papel de saquear e depredar o nosso Meio Ambiente, destruir comunidades originárias e tradicionais, tudo isso amparadas pelas politicas que permitiram e facilitaram suas instalações e funcionamento. E, aqui é preciso destacar que indiferente dos governos de turno.
As grandes queimadas no norte do país, o flagelo sócio ambiental das mineradoras, desmatamentos, desvios de cursos de rios, construções de grandes barragens, o deserto verde dos eucaliptos e soja no Bioma Pampa (um dos Biomas mais devastados que temos) foram a regra constante para saciar a sede de lucro destes setores que comandam o domínio do território de nosso país. É verdade também que, não sem resistência das comunidades Indígenas, quilombolas e movimentos sociais do campo. A luta pela questão ambiental sempre atravessou forte estes setores, pelo recebimentos diretos dos impactos das politicas do Agronegócio e suas transnacionais.
A pauta mais atual que vai de encontro com ‘resistir para sobreviver’ é a luta contra o “Marco Temporal”. Os sujeitos desta luta são nossos povos originários, que durante séculos colocaram suas vidas a disposição pra defender a preservação da natureza e de nossos principais biomas. O Marco Temporal é a continuidade da queda de braços entre os costumes do ‘bem viver’ originários contra a herança colonial sobre nossas terras. Não a toa que o Brasil é um dos países que mais mata ambientalistas no mundo, qualquer voz que se levanta contra este massacre ambiental, pela logica do Estado, precisa ser calada. Também é preciso continuar denunciando e exigindo medidas para cessar o genocídio indígena que é muito grave no Brasil.
Agora, a situação extravasa de forma drástica para impactos nas cidades, grandes e pequenas, que tampouco construíram projetos de vida e crescimento em equilíbrio com o Meio Ambiente. Por isso é fundamental repensar com agilidade os modelos de cidade que temos, e as formas de enfrentar as situações de flagelo ambiental para que não se perca mais vidas por falta de alerta ou socorro imediato.
Tudo esta interconectado e, a pauta climática precisa ganhar ainda mais destaque e prioridade nas nossas diferentes frentes de atuações.
No Rio Grande do Sul a poucos dias vivenciamos uma tragédia ambiental onde vidas foram ceifadas e milhares de pessoas perderam seus lares, o lastro arrebatador das cheias e tempestades deixou caminhos de muita tristeza, desespero e também abandono . Foram muitas cidades, localidades rurais e ribeirinhas que sofreram os grandes impactos de mais um ciclone. O caso mais emblemático certamente aponta para a região noroeste do estado, mais precisamente para o Vale do Taquari, onde cidades foram literalmente engolidas pela força das águas. Dezenas de vidas perdidas, lares destroçados, um cenário impactante. Precisamos estar atentos e cobrar investigações sobre as possíveis faltas de alertas de evacuação que poderiam evitar as mortes que ocorreram. Insistir para a transparência dos mecanismos de acompanhamento das barragens que operam nos rios que transbordaram pra cima das cidades. Se os alertas meteorológicos sobre a quantidade de chuva naquela região já estavam divulgados porque não acionaram um plano de imediata retirada das pessoas daquelas cidades?
Só o povo salva o povo.
Aqui, é importante destacar que a solidariedade vinda dos de baixo se vez exemplo imediato, principalmente vinda do MST, que em poucas horas depois da tragédia instalaram uma rede de apoio para socorrer as famílias daquela localidade. Solidariedade que é mais que palavra escrita e que não precisa de autorização da burocracia estatal para acontecer. Saldar os demais grupos, organizados ou não, que também foram importantes nesta corrente de solidariedade. Nossa admiração também pela valentia dos próprios moradores, que em meio ao desespero lutaram, arriscando suas vidas, para não deixar familiares e vizinhos sem ajuda. E, que agora estão resignados a tarefa de se reconstruírem em meio a tanta dor e perdas. Que nunca lhes falte o gesto bonito da solidariedade entre os de Baixo.
Daqui pra frente é de fundamental importância estarmos articulados e com mecanismo de ações para situações como estas, articular comitês populares de apoio para as catástrofes ambientais. Pressionar os governos para um plano de alerta e socorro eficaz para todos os momentos de possíveis desastres. Denunciar os agentes dos desastres, a morosidade dos alertas para a população e, principalmente exigir, pela força da luta popular, que os ricos e a elite saqueadora paguem a conta. É inadmissível que passem de lombo liso e que deixem para os de baixo a responsabilidade de se reestruturar de mãos abanando.
Os povos oprimidos do mundo não merecem nem mais um dia da imundícia do sistema capitalista devastador de gente e nosso Meio Ambiente.
Federação Anarquista Gaúcha / CAB