29 ANOS DO MASSACRE DE ELDORADO DOS CARAJÁS – TRANSFORMANDO O LUTO EM LUTA!
Depois de quase 30 anos do massacre de Eldorado, pouca coisa temos que comemorar no agrário brasileiro. Entra governo e sai governo e a reforma agrária anda a passos de cágado. No Governo Lula III não é diferente. Analisando só os dados de 2024 (CPT,2024) chegamos à conclusão de que ocorreu um tímido avanço nos direitos graças à luta direta dos povos dos campos, das florestas e das águas. Porém, a reforma agrária e o reconhecimento dos territórios indígenas e das comunidades tradicionais continuam paralisados. Para se ter uma ideia, ao todo, foram registradas 1.056 ocorrências de conflitos no território brasileiro no ano de 2024, sendo 872 conflitos pela terra, 125 conflitos pela água e 59 casos registrados de trabalho escravo. Esses números apresentam uma pequena redução, em termos absolutos, em relação a 2023 (1.127). Contudo, o número de conflitos continua alto, seguindo o mesmo padrão de 2023 (849 para 824). Agora com uma característica específica – as conflitualidades estão envolvendo diretamente as ocupações de terras,exatamente onde a ação direta dos povos em luta continua colocando o latifúndio em xeque. Por isso, nesse 17 de abril, dia internacional da luta camponesa, é momento de luto, em lembrança pelo sangue derramado de mulheres e homens que lutaram por justiça social e reforma agrária popular na Amazônia, no Brasil e no mundo. Mas, também, os povos do campo seguem transformando o luto em luta para não deixar esquecer a brutalidade do estado e do agronegócio para quem ousam se levantar contra as injustiças no campo brasileiro.
A Amazônia Legal continua sendo a região que mais concentra assassinatos na luta pela terra no Brasil. Dos 11 registrados em 2024, oito foram cometidos nessa fronteira do agro-mínero-hidro-negócio,a mesma região do Massacre de Eldorado. Por isso, realmente, nada temos a comemorar. O Estado,juntamente com os agentes do capital, nessa região, continuam sendo os mesmos assassinos de sempre! Helder, com sua família Barbalho, continua sendo um dos maiores pecuaristas do Pará. Compõe o mesmo clã que mandou matar Quintino Lira. O mesmo grupo doméstico que se pinta de progressista para encabeçar a cop-30, agora assumindo a bandeira do capitalismo verde (bioeconomia), mas que permanece sendo a mesma linhagem que organiza as velhas forças reacionárias da oligarquia na região.
O latifúndio, através dessas mesmas oligarquias, utiliza os grandes veículos de comunicação de massa para venderem uma imagem moderna,onde a concentração de terras, o trabalho escravo e a violência sistêmica e estrutural seriam coisas do passado. Puro engodo. O Massacre de Eldoraldo é o instrumento de memória viva em luta que nos lembra no dia a dia esse fato. Continua colocando, em nossa face, a mesma repressão violenta que os movimentos sociais enfrentam no cotidiano. A mesma impunidade que permeia o sistema judicial brasileiro, onde os interesses econômicos do agropop se sobrepõem os da classe trabalhadora. Para isso basta observarmos a composição da bancada ruralista no congresso nacional – dos 513 deputados federais, 324 compõe o bloco agrário. Dos 81 senadores, 50 são representantes diretos das oligarquias. Mais de 525 anos depois da invasão moderno-colonial, mais de 100 anos após o início da industrialização em território nacional, continuamos sendo governados pelas mesmas oligarquias das velhas capitanias hereditárias.
Por isso, nesse momento, reafirmamos a solidariedade com aqueles que continuam a lutar contra a opressão e pela justiça social no campo. É nessa mesma solidariedade que continuamos a converter luto em luta,não dando um mílimetro de trégua àvelha oligaquia que governa a república brasileira.
Lutar criar reforma agrária popular!
Coordenação Anarquista Brasileira