[FARPA-AL] Agora querem falar de combate à fome
Dos debates eleitorais aos programas de governo, o combate à fome, pobreza e miséria, vem sido ouvido repetidamente nos púlpitos e palanques das candidaturas ao Governo de Alagoas. Misturados entre as picuinhas e performances dos opositores entre si, estes opositores do povo não convencem.
Dados que antes passavam batido hoje são convenientemente usados para demonstrar a realidade dura de um estado que, de fato, cresce nas condições da fome, do analfabetismo, da absoluta falta de perspectiva de trabalho e sustento. O que apontam como solução: isenção fiscal e desenvolvimento de empresas, ou as medidas paliativas (urgentemente necessárias mas, sozinhas, insuficientes) das bolsas de auxílio. Eles colocam o combate à fome como propaganda, ao ignorar a complexidade e como suas próprias decisões – dentro da história política pessoal, de seus aliados, partidos, e coligações- inclusive ACENTUARAM a situação da fome.
Em que lugar a trajetória de Paulo Dantas traz demonstração de que pretende combater a pobreza? Ele chegou “de última hora” assumindo o governo de Renan Filho (MDB), a qual era vice, e tentou soltar às pressas diversas medidas objetivando eleições. Entretanto, se seu demarcador é a história do ex-governador e filho de Renan Calheiros, que também fique com o ônus: não é possível esquecer o tanto que o FECOEP ficou amarrado e utilizado de forma dispersa, deixando quem mais precisa de fato em uma situação de desamparo – e estamos falando de um fundo que tinha mais de R$ 800 milhões!
Em que lugar a trajetória de Fernando Collor de Mello (PROS) aponta por alguém que de fato quer pensar em quem mais precisa? Ele que é porta-bandeira do bolsonarismo e das medidas anti-povo, que deu calote na poupança e hoje dá calote aos ex-trabalhadores de sua empresa. Ainda votou favorável ao chamado “orçamento secreto”, que destina verbas ao Orçamento através das emendas do relator. Além de também votar ao que seria uma nova reforma trabalhista com intuito de dificultar ainda mais a vida de jovens trabalhadores, que poderiam ser contratados sem direito a férias, 13º, FGTS e outros direitos trabalhistas. A medida, se tivesse sido aprovada, iria dificultar ainda mais fiscalização contra o trabalho análogo ao escravo, aumentar jornada de mineiros, reduzir pagamentos de horas extras, etc.
Em que lugar a trajetória de Rodrigo Cunha (PSDB) demonstra legítimo interesse social, quando votou favorável à Reforma da Previdência, à PEC dos Precatórios que vai manobrar R$ 100 bilhões dos Precatórios para o Auxílio Brasil, numa dinâmica eleitoreira que manuseia o Teto de Gastos, mas não trisca um centavo entre os mais ricos. Aliás, Cunha, que tanto apregoa a transparência, também votou favorável ao Orçamento Secreto.
De Rui Palmeira, a história vem daqui de Maceió e não esquecemos que foi sua gestão quem construiu um plano de contenção de despesas que previa mortificar a aposentadoria de servidores municipais e outros ataques ao funcionalismo público. Foi ele quem consumou a extinção da Vila dos Pescadores de Jaraguá, trazendo impactos absurdos sentidos até hoje pela comunidade pesqueira tradicional que hoje peleja pelo sustento, enfrentando ainda adoecimento, mortes, para beneficiar segmentos econômicos com o aprofundamento do processo de segregação, higienização e racismo ambiental.
Por falar em moradias, esticamos às questões ambientais, onde o silêncio é brutal por parte de TODOS ELES em relação aos impactos da mineração criminosa cometida pela BRASKEM, que hoje resvalam muito mais do que nos cinco bairros diretamente atingidos. Na desocupação e impunidade absurda de uma empresa que, no final das contas, vai sair GANHANDO com toda destruição causada contra o povo.
Combate à fome seletivo? Como isso é possível? Contribuindo com tudo o que fortalece a insegurança de vida, moradia, segurança, saúde, educação e obviamente alimentar do povo? Nada novo e tão merecedor da crítica feita ainda na década de 20 por Maria Lacerda de Moura: “Não se trata de esverrumar a causa da chaga sangrenta da miséria, mesmo do coração da opulência, ao lado da ociosidade que se diverte cinicamente, depois de atirar uns níqueis para os esfaimados, níqueis roubados ao trabalho árduo dos explorados do salário. Há apenas a preocupação de se jogar migalha na boca escancarada da fome, talvez para que nos deixem em paz… E, divertir-se a custa da dor, da amargura, da fome, é insultar o sofrimento”.
É a armadilha da caridade que limita-se a arrancar a dignidade do povo e desmobilizá-lo, como ela ainda acrescenta: “É quando chegamos à conclusão de que a caridade humilha, deprecia, desviriliza; desfibra a quem dá e a quem recebe; quando sentimos que a solução para os problemas humanos não é a caridade que sufoca todas as fibras interiores de que tira, às faces escancaradas da miséria e as sobras, o supérfluo; a caridade que estrangula todas as energias latentes daquele que estende as mãos para receber, servilmente, o que sobra das orgias e da exploração dos que vivem à custa do trabalho alheio; quando por si mesma, a moral de que se alimenta a sociedade vigente decreta a falência, essa moral odiosa, de classes de ricos piedosos e de pobres a receberem esmolas, de exploradores caridosos e explorados calculadamente vigiados pela força armada, mantenedora da passividade exterior”.
Não se trata de apontar apenas o histórico de um por um, para desacreditar na intencionalidade do combate à fome.
Aqui denunciamos a hipocrisia de discursos que não condizem com a prática, ao tempo em que entendemos que, mesmo os mais bem intencionados com postura coerente, e que inclusive denunciam esse tipo de prática, ao se colocarem neste lugar de candidatura em Alagoas, disputam uma lugar que – dentro do truco político do regime representativo – pouco poderá realizar pelo bem do povo de fato, quase nada poderá fazer para que sozinho “traga o povo ao poder”. Não dentro desta institucionalidade instaurada, já que a construção do poder popular não virá de cima pra baixo.
A quem percebeu ainda: não havia mulher, e ainda que houvesse, de novo lembramos ainda quando Lacerda de Moura atenta para o tanto “que essas reivindicações não se podem limitar a ação caridosa ou a um simples direito de voto que não vem, de modo algum, solucionar a questão da felicidade humana e se restringirá a um número limitadíssimo de mulheres.” Seu contexto condizente com a época fazia crítica às deturpações do feminismo interpretado sob os olhos sufragistas, mas é o que ela fala sobre o combate à miséria que nos toca tanto.
É preciso ter muito, mas muito cuidado, com as armadilhas postas pela toma lá dá cá caridoso do processo eleitoral. Ainda está valendo o quanto “devemos à superstição governamental, à superstição religiosa sectarista, à superstição patriótica, à superstição nacionalista, à superstição do progresso material, à ganância de uns e ao servilismo da maioria – o predomínio desta civilização de duas classes sociais: a dos ricos e a dos pobres. A humanidade custará a compreender que a vida social poderia desdobrar-se num ambiente de solidariedade, de auxílio mútuo, sem amos nem escravos, sem protetores e protegidos, sem representações parlamentares em mediocracias diplomadas”.
Pode custar, Maria, mas vai chegar o dia.
APOIO MÚTUO E AUTOGESTÃO: SEM PAZ E ESCOLHA PARA OS RICOS
E é por isso que essa conversa não é de desesperança. Como interpõe Malatesta, “não somos simplesmente uma força negativa, mas queremos ser e somos uma força ativa, operante, eficaz, na luta pela emancipação”. É com ele que também sabemos o quanto “a propaganda isolada, ocasional, que frequentemente é feita com o objetivo de acalmar sua consciência, ou para dar simplesmente livre curso à sua paixão pela discussão, esta propaganda não serve para nada ou quase nada. Ela é esquecida, perde-se antes que seus efeitos possam somar-se uns aos outros e tornar-se fecundos, tendo em vista as condições de inconsciência e de miséria das massas e, por outro lado, todas as forças que nos são contrárias.”
Não é só desesperança no voto ou crítica à caridade: O que a gente entende é só que o caminho da esperança num mundo melhor não é por aí. E quantas vezes for necessário, apostamos que, ao invés da representação por um Estado que decide de cima pra baixo, só na organização das e dos debaixo que conseguimos enfrentar e fazer valer nossos direitos e, mais que tudo, combater de fato a fome atingindo suas causas, cuidando por conta própria do que é emergencial, construindo um futuro em que ela não tenha mais terreno para existir.
Os ricos não devolverão em paz o que nos arrancaram. Não devolverão nos palanques e nem quando descer dele nos seus gabinetes. Não devolverão. A armadilha da caridade que compra voto sabe bem disso e por isso precisa que a fome exista. É esta caridade que confronta com tudo o que apostamos: uma sociedade emancipada, libertária que se enraíza enquanto cuida das urgências através do apoio mútuo. É esse auxílio mútuo que se solidariza enquanto constrói no ombro a ombro uma nova realidade. A campanha de combate à fome que convidamos é, portanto, um caminho oposto e concreto. Não passa pela escolha de candidatos, mas pela escolha de pessoas, movimentos sociais, bairros, escolas, sindicatos, de construírem soluções coletivamente.
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Campanha de Luta Contra a Fome! Agitar o país para garantir dignidade alimentar!