8M: MULHERES POR VIDA DIGNA, ABORTO LIVRE E O FIM DA ESCALA 6X1!
Mais um 8 de março se passa e nós mulheres da Coordenação Anarquista Brasileira continuamos nas trincheiras da luta social, enfrentando o machismo cotidiano e a negação dos direitos mais básicos para uma vida digna. Estamos vendo, ano após ano, nossos direitos atacados, nossa liberdade sendo tomada, nossas irmãs sendo vítimas de violência machista, racista e LGBTQIA+ fobia, nossos corpos sendo submetidos a dupla jornada de trabalho e ao controle dos direitos reprodutivos pelo estado patriarcal e capitalista. Seguimos nas ruas enfrentando mais um ano os retrocessos na pauta do aborto, defendendo um direito básico das pessoas que gestam poderem decidir sobre seus corpos. Queremos aborto livre, de maneira gratuita e segura pelo SUS como uma pauta inegociável no direito das pessoas com útero, sobretudo de mulheres negras que são as que mais são mortas em abortos clandestinos. Queremos que as mulheres trans e travestis tenham uma vida longa e seus direitos assegurados. Que ocupem os bancos das escolas e universidades, e que tenham acesso a empregos estáveis, com remunerações e condições de trabalho dignas.
Enquanto isso, a cada dois anos, dizem que podemos eleger alguém que revogue as leis que nos oprimem e violentam nossos corpos. Nos pedem calma enquanto nossas pautas são reduzidas e negociadas em gabinetes, passamos fome devido ao alto custo de vida, não temos tempo e estamos exausta pois nossos corpos são explorados por rotinas trabalho estremamente extensas e desumanas como na escala 6X1. Segundo IBGE (2022), as mulheres ganham 19,4% a menos que os homens, quando inseridas no mercado de trabalho formal; assim como, possuem além da carga de trabalho cerca de 21,3 horas de funções domésticas – numa dupla jornada que torna a escala 6×1 ainda mais cruel com as mulheres. Soma-se a isso, o fato de que as mães solo são cerca de 15% das famílias brasileiras – em sua maioria mulheres negras, sendo ainda mais impactadas por uma escala de trabalho que não contempla sua estrutura familiar
Estamos cansadas, e por isso exigimos o FIM DA JORNADA 6X1 e desse SISTEMA PATRIARCAL CAPITALISTA que prioriza o lucro acima de tudo!
Essa jornada exaustiva impacta diretamente nossa saúde física e mental, prejudica nossas relações pessoais e limita nossas oportunidades de desenvolvimento pessoal, nosso tempo de descanso e lazer. Queremos o fim dos cortes nos direitos sociais e do ajuste neoliberal com seu arcabouço fiscal, seus cortes no bolsa familia que afetam a maior parte do povo brasileiro, principalmente mulheres que são mães, pretas e pobres. Queremos creches acessíveis, educação sexual nas escolas, a revogação do Novo Ensino Médio e vagas para todas nas Universidades Públicas, que devem permanecer gratuitas, garantir políticas de permanência e desenvolver pesquisas à serviço do nosso povo. Queremos o fim do garimpo e da exploração capitalista da terra e dos territórios, com a demarcação de terras indígenas e quilombolas, e a expropriação dos latifúndios, colocando terra na mão de quem nela vive e trabalha. Queremos transporte público gratuito, de qualidade e controlado pelo povo. Queremos apenas uma vida digna, e vamos conquistá-la, independente de quem estiver no governo. Sem esquecer de cada mãe preta que luta por justiça nas periferias do Brasil, e de cada pessoa trans e travesti lutando para não virar estatística. A nossa saída para garantir direitos e fazer valer a luta de cada companheira que está conosco é uma só: organização.
Precisamos estar juntas nos movimentos do campo, da cidade e das florestas, movimentos de luta por moradia, feministas e antirracistas. Precisamos ocupar sindicatos, grêmios estudantis e associações de moradores. Precisamos de movimentos combativos, autônomos e com independência de classe, sem depender de partidos, políticos profissionais ou empresas para alcançar vitórias. Enquanto mulheres libertárias, precisamos construir a Organização Anarquista para disputar politicamente esses espaços, lutar contra o patriarcado que se expressa dentro dos próprios movimentos, e radicalizá-los, para que sejam sementes do novo mundo. Por fim, nossa resposta à esse sistema de morte é fincar cada vez mais nossos pés nos territórios e nos espaços sociais das classes oprimidas. É tomar para nós a responsabilidade por nossa libertação, pela construção e luta por pautas que ampliem nossos direitos. Nosso caminho é a auto-organização, o ombro a ombro, e a rebeldia de quem já busca no hoje a construção de um mundo novo com socialismo e liberdade, e, por isso, um mundo necessariamente feminista, antirracista e anticapitalista.