86 anos da Batalha da Sé
Há exatos 86 anos, no dia 7 de outubro de 1934, a classe operária paulistana enfrentou o fascismo de punho fechado e de cabeça erguida. No episódio que ficou conhecido como a “Batalha da Sé” ou a “Revoada dos galinhas-verdes”, os trabalhadores organizados, encabeçados principalmente pela Federação Operária de São Paulo (FOSP), botaram para correr debaixo de tiros e de muita porrada os integralistas liderados por Plínio Salgado.
Naquele dia, foi marcada pela Ação Integralista Brasileira (AIB) uma marcha na Praça da Sé, no Centro da capital paulista. A polícia paulistana, sabedora da animosidade entre fascistas e anti-fascistas, cercou a praça, colocando barreiras nas ruas que desembocava, naquele espaço público, de modo a impedir o acesso a quem não participaria da marcha. Obviamente, o comando das forças policiais era majoritariamente simpatizante do integralismo, assim como o contingente policial, acostumado há décadas a reprimir o movimento operário e anarquista.
Ao mesmo tempo que chegavam a praça os galinhas-verdes e suas famílias, muitas vindas de trem do interior do Estado, animadas pela oportunidade do encontro fascista e de ouvir suas lideranças, colunas operárias afluíam em direção à Sé, reunindo-se nas ruas laterais bloqueadas pela polícia.
A praça estava repleta, com mais de 5 mil integralistas eufóricos com o início do ato. Naquele mesmo momento, um grupo de anarquistas, liderados pelo sapateiro Juan Pérez Bouzas e pelo ucraniano Stepanovich, toma um ninho de metralhadora postado na torre da Catedral da Sé, então em construção. Um deles engatilha a metralhadora de tripé e dispara várias rajadas sobre a cabeça da fascistada, provocando pânico generalizado na praça. Nas ruas laterais, os trabalhadores aproveitando a perplexidade da polícia, rompem os bloqueios e irrompem na praça empunhando porretes e algumas armas, iniciando um conflito de grandes proporções.
As famílias dos “cidadãos de bem” integralistas, corriam desesperadas sem saber para onde. Muitos “corajosos” militantes fascistas tupiniquins deixaram para trás suas esposas e filhos e, segundo contava o sapateiro anarquista Antonio Martinez, lá presente, tiravam suas camisas verdes e as jogavam na sarjeta, ficando apenas de camisetas.
A multidão de galinhas-verdes, com escoriações generalizadas e penas faltando, rumou cabisbaixa para suas casas e para a estação ferroviária da Luz, ansiosas por retornar rapidamente para suas cidades do interior. Sentiram na pele, pela primeira vez, as agruras da luta política e social, nas mãos da classe operária combativa e endurecida, acostumada aos embates com a repressão. Um grande número dessa “gente de bem”, humilhada, nunca mais voltaria a participar de um ato político. Começava a derrocada do integralismo, que teria seu estertor no frustrado Levante Integralista de 11 de novembro de 1937 no Rio de Janeiro, quando os camisas-verdes tentaram derrubar Getúlio Vargas. Dos 150 integralistas que haviam se prontificado a tomar o Palácio Guanabara e prender Getúlio, apenas 30 compareceram. Muitos pularam dos caminhões no trajeto rumo ao Palácio, o que salvou suas vidas, pois diversos que lá chegaram foram sumariamente fuzilados pelos militares. A tentativa de golpe foi derrotada pelas forças do governo, mais de 1.500 integralistas foram presos e Plínio Salgado exilou-se em Portugal.
Nos últimos anos, historiadores marxistas vêm tentando atribuir o protagonismo dos episódios na Praça da Sé à Frente Única Antifascista (FUA), hegemonizada pelos marxistas e socialistas, ou a uma ação conjunta das esquerdas, de modo a diminuir a presença anarquista naquele episódio. Mas quem de fato protagonizou o conflito que desbaratou a marcha fascista foram os operários da FOSP e os corajosos militantes anarquistas que empunharam a metralhadora e provocaram a “Revoada dos galinhas-verdes”.
O operariado organizado em 7 de outubro de 1934 nos ensinou como lidar com o fascismo. Recordemos seu exemplo e sua memória.
Indicamos abaixo dois materiais que abordam o episódio:
A Militância de Ideal Peres.
https://bit.ly/2NxNaGc
A Revoada dos Galinhas Verdes – Uma História da Luta Contra o Facismo no Brasil.
https://bit.ly/2zXEw06
Viva o 7 de outubro!
Morte ao fascismo!