120 anos do periódico Regeneración
Há 120 anos nascia um importante instrumento de propaganda, agitação e denuncia da classe trabalhadora mexicana, o Regeneración. Esse jornal que faz parte de uma série de outros veículos construídos por anarquistas, no passar do tempo, com o objetivo de informar e propagar o ideal de luta e organização dos de baixo.
Irmãos Flores Magón
Filhos de Margarita Magón e Teodoro Flores, Jesús, Ricardo e Enrique Flores Magón tiveram participação fundamental na construção e funcionamento do periódico Regeneración. Jesús (1871-1930) era irmão mais velho, Ricardo (1873-1922) o “do meio”, e o Enrique (1877-1954) o mais novo. Nasceram no México, especificamente, em Oaxaca, na década de 1870.
Ricardo Flores Magón
Cipriano Ricardo Flores Magón que estudou jurisprudência e começa a trabalhar como tipógrafo e redator no jornal La Oposissión, ganha destaque não só como fundador e redator do Regeneración, mas também como influenciador das ideias de organização e luta no Partido Liberal Mexicano (PLM), ao qual integra em 1901.
Porficio Díaz, o porfiriato
No ano de 1876, iniciou o regime do militar Porfirio Díaz (1830-1915), um período intermitente que foi apelidado como porfirismo ou porfiriato e durou 30 anos. Os sintomas do pofiriato eram a exploração das trabalhadoras e trabalhadores no campo e da cidade, concentração das riquezas, uma educação precarizada ao povo pobre e fortalecimento político e econômico das famílias latifundiárias e de empresas estrangeiras. Foi assim que Díaz criou a classe mandatária e subalterna mexicana aos interesses estrangeiros. Modelo de regime político comum na América Latina e Caribe.
Regeneración
Em 7 de agosto de 1900, fundado pelos irmãos Flores Magón, nasce o primeiro número do Regeneración. Apresentado como um “jornal jurídico independente” com uma escrita agressiva com temperos de ironia. Tiveram tiragens de 30 mil exemplares focando sua distribuição para as mãos dos trabalhadores.
Os irmãos Magón atribuíam ao ofício do periódico uma maneira de revelar ao povo sofrido do México as perversidades cometidas pelo regime de Porfirio e estimular o combate frente a essas medidas que sucateavam a vida dos mais pobres. Dessa forma, o jornal tornou-se um meio para aglutinar contestadores da classe do povo contra o ditador. Por conta de suas publicações e seu alcance aos de baixo, o jornal sofreu repressão das forças de Díaz. Em 1901, as oficinas onde eram impressos os periódicos foram fechadas e os irmãos Flores Magón ameaçados de morte e, meses depois, presos.
Nos Estados Unidos, os irmãos Magón se exilaram, mais especificamente no estado do Texas. Depois de um intervalo de publicação pelos fatos ocorridos, o jornal retorna. Em 5 de novembro de 1904, inicia-se a retomada do regeneración com o lançamento de um jornal com a numeração n.01. Nesse novo momento do periódico que se coloca como um “jornal combativo”, largando seu primeiro momento como “jurídico”, os discursos ficam mais agressivos contra o regime político de Porfirio.
As publicações de enfrentamento a Díaz e auxiliando na construção da revolta do povo ao porfiriato fizeram com que as oficinas do jornal fossem destruídas pelas forças de Díaz, em 12 de outubro de 1905, somando mais um momento de desarticulação e rearticulação dos membros impulsionadores do periódico.
Na primeira quinzena de fevereiro de 1906 são retomadas as publicações do Regeneración. Nesse período, o território mexicano está passando por conjunturas de efervescência de lutas, como as greves de Cananea (1906) e Rio Blanco (1907). Essas ocorridas pela precarização das condições de trabalho, insalubridade da vida, que se agrava mais em 1907. Nesse ano, a crise econômica, gerada pela queda dos preços do cobre e demais metais extraídos no México, leva a demissões em massa dos trabalhadores das minas, principalmente, em Hidalgo, Durango, Chihuahua e Sonora, norte do país. Períodos intensos de publicações do Regeneración, assim, como nos anos da Revolução Mexicana (1910-1920).
Ao longo de seu tempo intermitente de publicação, causado pelas perseguições, o jornal foi um veículo importante dos de baixo. Teve vários colaboradores e impulsionadores, como: os irmãos Juan e Manuel, Práxedes Guerrero, Librado Rivera e Antonio Villarreal que escreveu um importante artigo de agitação do período das greves citadas acima, chamado “Mexicano: seu melhor amigo é um fuzil” (tradução nossa). Foi solicitada a expansão do Regeneración por Emiliano Zapata, em Morelos. Também, por meio deste jornal, que se articularam contatos e publicações com demais periódicos e círculos anarquistas no continente Americano e Europeu.