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1º DE MAIO: ONTEM E HOJE, REDUZIR A JORNADA DE TRABALHO COM LUTA E ORGANIZAÇÃO, LUTAR PELO FIM DA ESCALA 6X1

Desde o ano passado o Brasil viu crescer a luta pelo fim da escala 6×1 e pela redução da jornada de trabalho pra 30 horas semanais, a luta pela redução da jornada não é uma coisa nova no Brasil, é uma luta histórica da classe trabalhadora no mundo, A história nos mostra que a conquista da jornada de 8 horas de trabalho foi arrancada dos patrões com muita luta e organização. Hoje, depois de décadas de governos e patrões envenenando sindicatos, distorcendo nossa história e revogando direitos conquistados, ainda somos esmagados por rotinas de trabalho exaustivas, precisamos mais do que nunca lutar pelo direito ao nosso tempo, precisamos também, conhecer a nossa história enquanto classes oprimidas, para que possamos atuar na realidade e transforma-la.

CONHECER A HISTÓRIA PARA TRANSFORMÁ-LA

No dia 1 de maio de 1886 em Chicago, um centro industrial dinâmico dos EUA, parou com uma greve geral das massas trabalhadoras que tomou a cena social lutando a sangue contra a classe capitalista pela redução da jornada para 8 horas. O 1° de maio explodiu essa pauta para todo mundo da pobreza como símbolo antisistema, como uma façanha histórica que tomou nas mãos e praticou, com todas as consequências, o lema “a emancipação da classe trabalhadora será obra da própria classe”. 

O movimento operário internacional, no primeiro congresso da AIT em 1866 já havia determinado a luta pela redução da jornada como uma conquista fundamental pra ir rompendo as correntes de exploração e miséria dos de baixo.

Em 11 de novembro de 1887 a luta operária é castigada com quatro militantes anarquistas condenados a pena de morte e enforcados pela justiça burguesa dos Estados Unidos: Alberto, Augusto, Jorge e Adolfo. Outros dois são punidos com presão perpétua – Miguel e Samuel – e um por 15 anos de presídio – Oscar. Luís, que também foi culpado e condenado a forca, não deu prazer ao seu carrasco e tirou sua própria vida antes de ser chamado ao palco de horrores da violência burguesa. Anos mais tarde toda a farsa criminalista montada pelo governo e a justiça caiu e todos foram declarados inocentes. Nada de novo no front de luta das classes oprimidas.

Em 1892, pela primeira vez no Brasil, é levantada a bandeira de Justiça e Memória dos mártires de Chicago no 1° de maio da praça da alfândega em Porto Alegre. O congresso operário brasileiro (1° COB) realizado em 1906 no Rio de Janeiro aprova como uma prioridade das lutas o movimento pra reduzir jornada sem perdas salariais, uma estratégia classista de ação direta para esticar o tempo livre do peão até arrebentar o relógio carrasco da patronal. Greves, sabotagens, paralisações, marchas populares e mobilizações solidárias se espalharam rapidamente em várias partes do país nos anos seguintes e a dignidade trabalhadora se fez costume inspirada nos métodos do sindicalismo revolucionário.

É nessas páginas de dignidade e memória combativa que saudamos os 40 anos da greve histórica dos metalúrgicos do Vale do Paraiba em SP iniciada em 11 de abril de 1985, quando a ocupação de fábrica da GM em São José dos Campos resistiu com toda a dignidade, debaixo da sombra repressiva, pela redução da jornada de trabalho pra 40hs sem cortes salariais e de direitos. 

A experiência dessas lutas, entre vitórias suadas, conflitos, golpes repressivos, derrotas e resistências foi terreno fértil dos sindicatos classistas, da ação direta, da solidariedade e das assembléias de base como método de independência de classe. E é preciso ter memória histórica para não perder o caminho que outras gerações de lutadoras e lutadores nos abriram, para não tomar o atalho do conformismo ou da capitulação ao sistema. As conquistas e liberdades que temos tomado na história são luta viva e encarnada das próprias classes oprimidas, e só a luta pode defende-las da ganância e a prepotência do poder dominante.

A LUTA PELA REDUÇÃO DA JORNADA HOJE:

O que você já deixou de fazer por conta da carga exaustiva de trabalho? Dia após dia a classe trabalhadora é esmagada pelo horário excessivo que a jornada 6×1 nos obriga a cumprir. São muitas vezes mais de 44 horas semanais dedicadas ao trabalho que nos impede de dedicar nosso tempo com os nossos, de brincar com as crianças, de curtir a família, de rever os amigos, de cuidar da saúde, comer bem, descansar, aproveitar a vida.

Enquanto isso, na outra ponta da pirâmide que o capitalismo nos impõe estão aqueles que enriquecem com o nosso suor e a exploração do nosso trabalho: os patrões e os governos. Veja, eles comem bem, descansam, passeiam, curtem a família enquanto nós estamos nas fábricas, nas lojas, nas unidades de saúde, nas escolas e em outros diversos serviços sendo explorados em uma escala que suga nossa energia.

Ainda nesse cenário, olhamos para quem nos quer ver explorados pelo trabalho, aqueles que defendem os patrões e seus governos. Eles dirão que a redução da jornada vai prejudicar a economia, essa economia que já não nos serve. Dirão que os mercados, os serviços todos irão fechar porque iremos trabalhar apenas quatro dias da semana, disseram a mesma coisa quando reduzimos as jornadas de 16 para 8 horas. Ou quando conquistamos o 13º salário, ou, indo ainda mais fundo, disseram a mesma coisa quando aboliu-se a escravidão.

Deixamos de estudar, de ir ao mercado, de cuidar da casa, de dar atenção aos filhos, à família, aos amigos. Nosso único dia de folga é abarrotado de tarefas domésticas, de idas ao banco, de resolução de problemas que são impossíveis de serem resolvidos nos outros dias de semana. Na prática, não sobra tempo de folga pra ninguém.

Sobra menos ainda para nós mulheres e, mais ainda, para mulheres pretas que, na maioria dos lares, acumula funções, trabalha fora, em casa, cuida da família, cozinha e não é respeitada. O estresse, a falta de autocuidado, de descanso, nos afeta ainda mais e às nossas companheiras.

Diante de todo esse cenário, o que nos sobra? Exaustão, adoecimento físico e mental, tristeza e infelicidade. É por isso que nós, a classe trabalhadora, temos reivindicado o fim da escala 6×1, a redução na jornada de trabalho sem perdas salariais e direitos.

O povo trabalhador e pobre já vem sofrendo com os cortes sociais do orçamento público, as privatizações, destruição ambiental, o aumento do custo de vida, a reforma trabalhista e da previdência, terceirizações e o novo teto de gastos, agora maquiado por Haddad de  “arcabouço fiscal”. Com o nome que for, sabemos a verdade: quem sangra com os cortes somos nós. 

SÓ A LUTA DEFINE PRA ONDE VAMOS

No fim de março, o breque nacional dos entregadores de apps enfrentou com uma grande mobilização nacional as plataformas bilionárias que exploram seus serviços com taxas mínimas e pagamentos por km rodado muito abaixo do que necessitam.  O Ifood perdeu o silêncio o conforto que move sua moderna tecnologia de servidão com a buzina das motos gritando alto nas ruas e pelos piquetes em pontos e zonas de mais fluxo de entregas. 

Os sindicatos de trabalhadores do setor público resistem com greves federais, nos estados e municípios aos cortes do orçamento que é imposto pela regras do arcabouço fiscal do ministro da tesoura Haddad. O golpismo e as políticas neoliberais do sistema se apoiaram mutuamente como um governo de choque e tornaram real e possível mais uma vez um governo frenteamplista liderado por Lula e o PT ser pautar pelos neoliberais e seguir aplicando o arrocho social, continuar o teto de gastos sobre o orçamento popular e pagar quase 1 trilhão de juros para a banca financeira que controla a dívida publica.

O Brasil registrou em 2024 um aumento de mais de 68% de afastamentos do trabalho por problemas de saúde mental, realidade de uma classe trabalhadora atormentada por metas excessivas da empresa, jornadas de puro cansaço, todo tipo de assédio e precariedade. Enquanto organizações patronais e os seus políticos de estimação, com a inércia do governo Lula, sabotam a urgente atualização da NR1 para contemplar todos esses casos que são burlados pela norma de saúde e segurança do trabalho vigente.

O ano passado também marca aumento de 57% dos processos de fraudes trabalhistas que são maquiados por contratos com PJ, uma explosão de micro-conflitos que vem se agravando com a reforma trabalhista e o vale tudo das terceirizações. Por essa porteira aberta passsam todos os tipos de contratos precários que vinculam trabalhadores por conta própria ao poder de uma empresa com subempregos que excluem direitos trabalhistas e cobertura social. E o STF tem sido fiel escudeiro dessas práticas, usando em seu favor como na empresa do ministro Gilmar Mendes e validando os interesses dos patrões contra os processos.

Na luta pela terra, segundo relatório anual da CPT, os conflitos no campo com danos a indígenas, quilombolas e camponeses, subiram entre 2023 e 2024, e atingiram o maior número de casos desde 1985. O agro e as mineradoras não param de atacar os povos com sua violência de classe para a propriedade privada engolir a terra, a água e os bens naturais, escravizar o trabalho e castigar toda e qualquer resistência as novas políticas coloniais de invasão e destruição.     

Nós temos hoje quase 40% da classe trabalhadora na informalidade, por conta própria, sobrevivendo no bico, ou competindo na barbárie do mercado com pequenos comércios e serviços com ajuda da família, ou subordinada a plataformas como entregadores e motoristas de aplicativos. A taxa de desemprego brasileira está maquiada por esse grupo amplo e variado de trabalhadores informais que não tem hora pra descansar e direitos pra trabalhar. Que estão gastando a vida por uma renda um pouco melhor que um CLT que ganha uma mixaria por uma jornada humilhante. Entre 70 e 90% do povo se vira a duras penas com dois salários mínimos pra baixo. Pagando mais imposto que os ricos e tomando um café aguado de preço amargo. Endividados e correndo sempre atrás do prejuízo, sonhando a sorte grande com o prêmio do tigrinho ou das Bets.

Diante do atual cenário, a única saída é a luta e organização popular contra todas as reformas dos de cima e pelo fim da escala 6×1, sem a perda de salários e direitos. Essa luta precisa ser autônoma e combativa, sem depender de patrões, governos e dirigentes. 

Olhemos para o passado e pensamos em todas as lutadoras que vieram antes de nós e conquistaram por meio da luta popular os direitos que, agora, tentam retirar de nossas mãos. Nos inspiramos nelas que, no passado, lutaram por uma vida dígna. Dos mártires de Chicago às Costureiras na linha de frente da Greve de 17, lembramos que só a luta pode transformar a vida. 

Precisamos organizar o nosso ódio dos de cima, e construir junto no agora o mundo que queremos viver, fortalecendo os sindicatos e movimentos sociais, organizando a luta estrategicamente para arrancar dos patrões e dos governos tudo aquilo que nos pertence.